Transar antes de falar em público melhora mesmo o desempenho do orador?

Pesquisa realizada na Escócia chegou a essa inusitada conclusão; história está repleta de exemplos de pessoas que tinham suas idiossincrasias para serem bem-sucedidas na tribuna

  • Por Reinaldo Polito
  • 21/04/2022 09h00 - Atualizado em 21/04/2022 10h35
lookstudio - br.freepik.com Retrato aéreo de jovem sonolento bronzeado com penteado da moda beijando sua linda namorada, deitada na cama com os olhos fechados Pesquisa mostrou que desempenho dos oradores é mais eficiente quando eles têm relações sexuais antes de falar em público

A informação pode parecer vulgar e inconveniente, mas está respaldada em pesquisa científica: as pessoas se saem melhor falando diante da plateia se no período que antecedeu a apresentação em público tiveram relações sexuais. Essa afirmação está apoiada em um estudo bastante curioso. Vamos à ciência. Uma pesquisa realizada na Universidade de Paisley, na Escócia, chegou a essa inusitada conclusão. Durante duas semanas os pesquisadores acompanharam as atividades de 22 homens e 24 mulheres, e entre as diversas observações que fizeram está essa de que o desempenho dos oradores foi mais eficiente quando mantiveram relações sexuais antes de falar em público.

O que posso dizer depois de atuar 47 anos como professor de oratória? A resposta é simples: se alguém acreditar que determinados comportamentos ou atitudes ajudam a ter melhor desempenho quando precisam enfrentar uma plateia, e se essa crença efetivamente der certo para ele, vá em frente. A história está repleta de exemplos de grandes oradores que tinham suas idiossincrasias para serem bem-sucedidos na tribuna.

Presenciei casos surpreendentes em sala de aula. Entre os mais marcantes está o do vice-presidente de um banco suíço que foi meu aluno particular. Durante os exercícios, teimava em segurar uma caneta na mão. Expliquei a ele que só se justifica segurar um objeto quando ele fizer parte do contexto da apresentação. Por exemplo, se o orador fala com o apoio de um quadro branco ou flipchart e tem nas mãos um pincel de tinta para suas anotações, não há problema, pois faz parte do conjunto da exposição e não desvia a atenção dos ouvintes. Se, entretanto, fosse uma caneta comum, como esferográfica ou tinteiro, por não ter utilidade no contexto e ser um detalhe estranho, poderia prejudicar a concentração das pessoas. Por isso, seria conveniente que ele deixasse a caneta de lado. 

Foi impressionante, entretanto, o que acabei constatando. Assim que ele largava a caneta, começava a hesitar e a perder a sequência do raciocínio. Segurava novamente a caneta e voltava a falar normalmente. Nunca vi nada parecido. Depois de algumas tentativas, eu disse a ele: segurar uma caneta sem que ela tenha um objetivo concreto na apresentação não é recomendável, mas, no seu caso, fale com ela nas mãos. Quem sou eu para proibir alguém de falar em público segurando uma caneta se o resultado é assim tão positivo?! 

Talvez você tenha assistido ao filme “Encontro de amor”, com a direção de Wayne Wang. Os protagonistas foram Jennifer Lopez, interpretando o papel de Marisa, e Ralph Fiennes, como Chris Marshal. Marisa tem um filho, Ty. O menino morre de medo de falar diante dos colegas quando precisa apresentar um trabalho em sala de aula. Ele confidencia esse pavor a Marshal, que é um orador muito experiente e concorre a uma vaga no Senado. O garoto pergunta ao político como ele consegue falar com tanta desenvoltura. Ele conta que também fica nervoso, mas diminui a tensão segurando um clipe na mão. O menino acata o conselho e também se sai bem. Como eu disse, cada um pode se defender da forma que julgar mais conveniente para se sair bem diante do público.

Lacordaire foi um dos maiores oradores do século 19. Seu método de preparação era bastante peculiar. Ele organizava um roteiro com os principais pontos que pretendia desenvolver. Destacava as ideias mais relevantes, que deveriam ser ressaltadas, e as frases para as quais desejava dar ênfase especial. Em seguida, ia com o roteiro em mãos para o jardim do convento e ensaiava falando para as flores, imaginando em cada uma delas os ouvintes que teria pela frente. Praticava várias vezes fazendo uma ou outra alteração, de acordo com o ritmo do discurso. Depois desse intenso exercício estava pronto para conquistar e encantar o público que abarrotava a catedral de Notre Dame.

Outro pregador que usava método semelhante foi o brasileiro Frei Francisco do Monte Alverne. Era um orador tão extraordinário que dizem se ombrear até ao Padre Vieira. Só que no seu caso, no lugar das plantas, falava com os repolhos da horta do convento. O que não falta é folclore nessa história de falar em público. Alguns dizem: se você estiver inseguro diante da plateia, imagine os ouvintes pelados. Outros recomendam que a visão seja de pessoas vestindo apenas cueca ou calcinha. Ora, se esse artifício deixar o orador mais tranquilo, como ninguém vai saber o que está na sua cabeça, que siga em frente.

O ideal é adquirir segurança conhecendo o assunto com profundidade, organizando a apresentação com critério, praticando o máximo possível e tendo a consciência das próprias qualidades de comunicação. Se, em todo caso, você julgar que pé de coelho, galho de arruda, sal grosso ou sexo antes de falar melhora seu desempenho, que vá feliz para a tribuna. Siga pelo Instagram @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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