Trump não tem amigos ou inimigos; apenas conveniências

Se for do interesse americano, um aliado de hoje pode virar um concorrente amanhã, e vice-versa

  • Por Reinaldo Polito
  • 18/12/2025 07h00
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Ricardo Stuckert/PR Lula e Trump O presidente americano Donald Trump em encontro com Lula

O que não falta são análises tentando explicar os motivos que levaram o governo de Donald Trump a revogar as sanções impostas pela Lei Global Magnitsky sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, sua esposa, Viviane Barci de Moraes, e a empresa da família, o Lex Institute. A decisão ocorreu em 12 de dezembro de 2025, em um movimento que representou um ponto de inflexão nas relações entre Brasil e Estados Unidos.

Surgiram hipóteses variadas, desde a negociação de acordos sobre terras raras, passando por eventuais pressões do agronegócio, até argumentos econômicos que tentam explicar a reversão da política de sanções.

Inflação no preço da carne

Houve quem dissesse que a economia americana sofreu com a falta de certos produtos brasileiros e que a escassez de carne teria elevado o preço dos hambúrgueres, com um lote de 45 kg passando de US$ 119 para US$ 180, algo que pressiona os custos às vésperas das eleições nos Estados Unidos.

Na verdade, sem acesso às informações de fontes primárias do governo americano, a maioria dessas explicações parece mais exercício de adivinhação do que análise baseada em fatos concretos. Ninguém acredita que, de uma hora para outra, Trump tenha acordado pensando: “Ops, me enganei”. É implausível supor que ele tenha se sentido pessoalmente constrangido pela aplicação da lei e decidido espontaneamente corrigi-la.

A busca de um motivo verossímil

Mais razoável é observar que os Estados Unidos, em sua lógica de política externa, procuram proteger sua credibilidade e seus interesses estratégicos. Se vantagens econômicas estiverem envolvidas, certamente pesaram. Mas jogar com a reputação de um país tão poderoso exigiria uma justificativa que vá além do óbvio.

O que consta nos comunicados oficiais é que a revogação das sanções se deu após sinais de “anistia e reconciliação institucional”, associados a mudanças percebidas no cenário político brasileiro. Embora tenha sido noticiada a possibilidade de diálogo direto entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, integrantes do governo brasileiro relativizaram essa versão após questionamentos da imprensa americana, evitando confirmar que o tema tenha sido tratado nesses termos.

Guiado pelas conveniências

No fundo, todos sabem que Trump não guia suas decisões por amizade com chefes de Estado, e sim pelas conveniências dos Estados Unidos. Se for do interesse americano, um aliado de hoje pode virar um concorrente amanhã, e vice-versa.

Em pronunciamento feito no lançamento do canal SBT News, na sexta-feira (12), Moraes agradeceu ao presidente Lula e comemorou o que chamou de vitória do Judiciário brasileiro: “A verdade, com o empenho do presidente Lula e de toda a sua equipe, prevaleceu. E nós podemos dizer com satisfação e com humildade que foi uma tripla vitória: a vitória do Judiciário brasileiro, da soberania nacional e da democracia”.

A oposição ficou frustrada

A oposição ao governo Lula, que via em Trump um apoio estratégico para suas causas, se sente decepcionada com a iniciativa americana. Muitos de seus líderes não estarão nas corridas eleitorais de 2026 e apostavam no respaldo externo para alterar o quadro político interno.

Parte desse grupo tinha expectativas de que o ex-presidente Jair Bolsonaro pudesse sair da prisão, recuperar seus direitos políticos e disputar a eleição do ano que vem. Eduardo Bolsonaro, que atuou nos Estados Unidos articulando apoio à aplicação da Lei Magnitsky sobre autoridades brasileiras, hoje vive em solo americano em exílio político.

Políticos expressivos fora das eleições

Outros políticos conservadores também viram frustrações nesse episódio, como a deputada Carla Zambelli, presa na Itália, e o ex-diretor da Polícia Federal Alexandre Ramagem, que se refugiou nos Estados Unidos. Há ainda casos como o do deputado Marcel Van Hatten, sob processo no Conselho de Ética da Câmara, com risco de suspensão do mandato.

Enquanto isso, os governistas, liderados por Lula, que pessoalmente se empenhou nessa batalha diplomática, comemoram a reversão das sanções, vista como uma derrota de medidas que colocavam em xeque a soberania brasileira. Já os adversários atravessam um verdadeiro pesadelo político, sem saber para onde correr ou a quem atribuir a responsabilidade.

A precaução de Flávio Bolsonaro

Até Flávio Bolsonaro, indicado pelo pai como possível candidato à Presidência, tem adotado um tom mais contido e equilibrado. Naturalmente crítico ao governo, como se espera de um pré-candidato, mas com cuidado para não se prejudicar politicamente.

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Assim como ninguém pode afirmar com precisão todos os bastidores dessa negociação entre Brasil e Estados Unidos, e talvez nunca venhamos a saber, seria desejável que, com o tempo, os fatos fossem conhecidos como realmente se deram, para benefício da nossa história e da melhor compreensão dos brasileiros. Siga pelo Instagram: @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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