‘Chico Anysio estaria indignado com a política e usaria o humor para criticar’, diz o filho Nizo Neto
Segundo o artista, a polarização política sempre existiu, mas era mais saudável que o ódio intolerante atual; ator estreia em janeiro, no Rio, a peça ‘Nunca desista de seus sonhos’
Prestes a estrear a comédia dramática “Nunca desista de seus sonhos”, Nizo Neto vive mais um desafio em sua carreira: encarar dois personagens – um empreendedor falido que luta contra o estigma de ser um derrotado e o próprio escritor Augusto Cury, já que o texto é baseado no livro homônimo do médico psiquiatra, considerado o autor mais lido da década. Em uma entrevista exclusiva ao site da Jovem Pan, o ator falou sobre a peça e sobre a polarização política vivida no cenário atual, relembrando inclusive as criações do saudoso Chico Anysio, seu pai. “Interpretar o Cury é um privilégio, porque não só é o autor da peça, como é o principal biografado da peça – porque a peça não deixa de ser um pouco a biografia dele. É um cara extremamente bem-sucedido. E é uma pessoa incrível. Um presente poder fazer esse personagem, ainda mais porque estou acostumado a fazer comédia. Isso mostra um lado diferente meu como ator.” O espetáculo estreia no dia 6 de janeiro, no Teatro Vannucci, no Shopping da Gávea, na zona sul do Rio de Janeiro.
Mesmo em tempos difíceis, o humor se coloca em provação, e, de acordo com o artista multifacetado, a sociedade se beneficia de tudo isso há séculos. “Podemos dizer que dá para fazer humor da tragédia. Chaplin nos ensinou e nos ensina ainda muito bem com o seu célebre personagem de ‘O Vagabundo’, onde o humor e a tragédia se entrelaçam bem. Os palhaços também nos ensinam muito isso e o humor salva. Meu pai dizia uma frase muito interessante: ‘Nós, comediantes, somos médicos da alma’. E é a mais pura verdade”, revela.
Para Nizo Neto, a evolução das mídias traz benefícios e é algo natural. “A televisão aberta como era está com os dias contados, porque a internet chegou devastando tudo. A TV migrou para a internet. E isso também aconteceu com o rádio com o surgimento da televisão, que acabou virando um veículo de comunicação e notícias, com pouco entretenimento comparado à dramaturgia que existia antes. Ou seja, tudo se adaptou e o mesmo acontece hoje em dia. O telespectador escolhe o que e quando assistir, mas, é claro, é preciso levar em conta que somos um país pobre e que pouquíssimas pessoas têm acesso à internet”, explica.
E por falar em redes, de acordo com Neto, as pessoas se sentem incomodadas com algumas abordagens, mas se esquecem de que o humor nasceu da crítica política também. “Os primeiros comediantes da história, isso falando lá do teatro grego, eram grandes críticos da situação política e isso se arrasta há anos. A polarização política sempre existiu, só que era mais saudável que o ódio intolerante atual, que, a meu ver, não é positivo.” Quando questionado sobre como seu pai, o saudoso Chico Anysio se pronunciaria hoje se estivesse vivo, Nizo é enfático: “Com certeza, com muita indignação, porque meu pai era um cara de direita, mas jamais dessa direita extremista”. O ator relembrou o famoso personagem do pai Justo Veríssimo, que era um político assumidamente corrupto que odiava pobre. “Não sei se por meio desse personagem, mas, com certeza, ele iria satirizar. Ele iria, como os comediantes fazem, usar o humor como ferramenta”, declara.
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Renata Rode é jornalista e estreia nesta quarta-feira uma coluna semanal no portal da Jovem Pan. Ela vai escrever sobre celebridades, lifestyle e relacionamentos.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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