Criminalidade em alta: ataques expõe nova era de violência nas ruas de São Paulo
Quadrilhas agora usam lanças para quebrar vidros de carros com película e cidade registra um celular roubado a cada três minutos
O medo que antes parecia distante agora bate no vidro literalmente. A colunista que aqui escreve sofreu momentos de pânico durante uma tentativa de assalto em São Paulo, ao lado de sua filha, de 14 anos. O ataque, que poderia ter terminado em tragédia, escancara a escalada da violência urbana que assusta motoristas e pedestres em toda a cidade e hoje, já não tem horário nem local específicos.
Para A.C., que não quer ser identificada, os dias de celular à mão dentro do carro foram extintos depois que ela sofreu um assalto dentro de um veículo de aplicativo na zona sul da cidade. “Até hoje não sai da minha cabeça o grito que o menino deu misturado ao barulho do vidro se estilhaçando. É tão rápido que você não tem nem chance de se defender. Eu pisquei e no outro segundo tinha sangue para todos os lados e meu celular havia sido levado.” A publicitária teve cortes superficiais nos braços e rosto e ficou traumatizada com o fato, tanto que, após o ocorrido, decidiu comprar um blindado e voltar a dirigir para se proteger mais.
De acordo com dados de comerciantes, alguns modelos de película antivandalismo podem resistir a pancadas de 200 quilos, porém, tudo é teoria quando na prática a marginalidade só cresce. “No sentido geral, podemos afirmar que a criminalidade está se adaptando à tecnologia de proteção (como películas, vidros mais resistentes, etc.), mas não podemos afirmar com segurança que essa tática seja amplamente quantificada ou dominante ainda. A ‘lança de portão’ como instrumento específico ainda parece ser mais relato do que estatística consolidada, pois representa uma fração menor dos casos de forma isolada, porém com metodologias específicas”, explica Emerson Tauyl, advogado criminalista especialista em segurança pública.
Ainda de acordo com ele, a proteção antivandalismo não deve ser vista como “barreira impenetrável”, principalmente se o agressor estiver determinado a cometer o crime. “A película antivandalismo é um meio de mitigar riscos, dificultar a ação criminosa, ganhar tempo ou reduzir danos. No contexto da criminalidade adaptando-se, a película eleva o nível de exigência para o criminoso, obrigando-o a mais esforço ou a mudar de tática. Com efeito, a função principal agora é dificultar a ação e aumentar a proteção dos ocupantes e menos a de tornar o veículo à prova de tudo”, detalha.
Películas: o que diz o especialista em engenharia
A coluna entrevistou com exclusividade Luis Carlos Simei, mestre em Engenharia Mecânica e professor no Centro Universitário FMU sobre a eficiência das películas antivandalismo brasileiras. “As películas têm como finalidade elevar a resistência mecânica do conjunto vidro e filme, sobretudo frente a impactos distribuídos e tentativas de fratura com objetos contundentes. Do ponto de vista técnico, elas aumentam o tempo de ruptura, reduzem a dispersão de estilhaços e dificultam a abertura imediata do vão, atuando como uma camada adicional de retenção. No entanto, é essencial esclarecer ao público que nenhuma película confere ao vidro automotivo um caráter estrutural de blindagem. Em situações reais de ataque, especialmente quando criminosos utilizam instrumentos pontiagudos e de alta alavanca, como as chamadas lanças de portão, ocorre um ataque concentrado, que gera picos de tensão em uma área muito reduzida. Esse tipo de ação favorece a perfuração progressiva do conjunto. Mesmo películas espessas e corretamente instaladas podem ser vencidas, ainda que ofereçam resistência inicial e atrase a invasão.”
De acordo com o especialista, as diferenciações chamadas de PS que indicam o nível de proteção da película utilizadas no mercado (incluindo referências como PS12) não compõem um padrão regulamentado no Brasil para aplicação automotiva. “Cada fabricante adota critérios próprios, baseados em espessura total do filme, resistência ao rasgo, resistência à tração e protocolos internos de impacto e perfuração. Para sentir-se mais protegido, o consumidor deve exigir um relatório técnico completo de instalação com as normas utilizadas, um certificado de conformidade e comprovação de procedência do instalador, já que a resistência final depende não apenas da película, mas também do substrato (tipo de vidro automotivo), da aderência da instalação e das condições ambientais ao longo do tempo. Por isso, afirmar que ‘o PS12 é o único realmente seguro’ é tecnicamente inadequado e impreciso. O correto é afirmar que apenas produtos testados, certificados e instalados de forma profissional podem oferecer desempenho confiável”, complementa o professor.
Blindagem é a única saída, e estatísticas disparam
Com o aumento da criminalidade o número de veículos blindados no Brasil cresceu quase 12% em relação ao ano passado, somente no primeiro semestre deste ano. Segundo levantamento da Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem), os estados de São Paulo e Rio de Janeiro lideraram o ranking.
Emerson Tauyl, especialista em segurança pública, lista cuidados que são, na verdade, medidas preventivas que devemos tomar para evitar assaltos:
- Evite ostentar objetos de valor visíveis no carro (celular, bolsa grande, notebooks, etc.). Mesmo em trânsito, a visibilidade de objetos de valor pode atrair a atenção de assaltantes.
- Mantenha sempre os vidros e travas em bom estado, use película antivandalismo ou vidro laminado quando possível, lembrando que isso não torna invulnerável, mas aumenta o tempo de resposta e reduz risco de dano.
- Sempre que possível escolha rotas com boa iluminação, presença policial ou câmeras, e evite trânsitos lentos ou paradas prolongadas em locais vulneráveis (entroncamentos, vias marginais com pouco policiamento).
- Se for parado ou abordado por assaltantes, numa situação de risco elevado e com armas envolvidas, priorize a preservação da vida: entregue os objetos, não reaja, acione o serviço de emergência imediatamente após e registre o Boletim de Ocorrência.
- Instale rastreador no veículo e, se possível, sistema que permita bloqueio remoto ou comunicação rápida com central de monitoramento.
- Em vias como a Marginal Tietê, evite aderir à faixa externa (laterais) em horários de menor movimento se tiver esta opção e escolha dar preferência a pistas centrais ou vias paralelas. Por vezes, os criminosos selecionam o trânsito lento ou paradas para agir.
- Use aplicativos de monitoramento ou câmeras (dash-cam) que registrem trânsito e façam “check-in” virtual com pessoas próximas, especialmente se trabalhar com transporte de passageiros ou tiver rotina de tráfego em áreas de risco.
Quanto custa e é difícil blindar um veículo em SP?
Como já foi dito, blindagem não é mais um luxo. Pensando em esclarecer algumas dúvidas, fomos conhecer uma empresa de blindagens em São Paulo para entender como é e quanto custa essa opção de segurança tão cobiçada ultimamente.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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