Dating Burnout: nova onda ocasionada pelo uso de aplicativos de namoro é analisada por especialistas
Confira os prós e contras de estar cadastrado em um site de paquera e saiba por que atualmente é tão difícil criar conexão nos relacionamentos
De acordo com dados da assessoria do Tinder, a tecnologia continua a moldar positivamente a maneira como as pessoas se conhecem, com a maioria das pessoas com menos de 30 anos usando aplicativos de relacionamento. Mais da metade (55%) teve um relacionamento sério com alguém que conheceu na plataforma, enquanto 37% conhecem alguém que tem um relacionamento sério por conta do aplicativo. Diante de um cenário repleto de menus, fotos e perfis, me pergunto por que está cada dia mais difícil criar conexão em relacionamentos? João Borzino, médico sexólogo e terapeuta sexual, responde: “Relacionar-se hoje é difícil porque, por mais estranho que pareça, as pessoas estão cada vez mais isoladas. Sim, principalmente nos grandes centros, observamos uma epidemia de solidão, depressão e baixa qualidade de vida. Sabemos a importância do relacionamento para a promoção e manutenção da saúde mental. É o apanágio da globalização; digitalizaram nossa civilização. Somos mais máquina que humanos hoje. Olhem só o resultado”, opina.
Claro que uma das maiores culpadas é a internet. “Com o desenvolvimento das mídias sociais a questão dos relacionamentos ficou banalizada. A impressão que as pessoas tem é que existe um mundo maravilhoso cheio de oportunidades e, por isso, não há tempo a perder; a fugacidade é a regra nesses casos. Por que ficar investindo afetivamente em alguém que tão rapidamente perde a graça, pois logo aparece outro visivelmente mais interessante no imenso cardápio dos posts, stories, mensagens, vídeos e etc? O mundo parece mais fácil do que é, mas a história não é bem assim”, alerta o profissional. Para Mylla Murta, escritora e especialista em relacionamento, é preciso analisar os sinais. “No passado, nós estávamos limitados a conhecer e nos relacionar com as poucas pessoas com quem convivíamos no nosso entorno. Com o advento da internet, das redes sociais e dos aplicativos de relacionamento, as pessoas têm múltiplas possibilidades de escolha. Isso, por um lado, trouxe uma série de benefícios, como a capacidade de nos conectarmos com pessoas que normalmente não encontraríamos – gente de outras cidades, até mesmo outros países. Por outro lado, esse excesso possibilidades também acabou gerando uma série de outros problemas”, explica.
Pois é, segundo Mylla, quando se tem múltiplas alternativas à disposição, as pessoas começam a ter a impressão de que sempre existe alguém melhor a ser escolhido. A melhor escolha a ser feita é sempre a próxima. “O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, inclusive, trouxe o conceito de amor líquido para descrever as relações atuais que, segundo ele, seriam caracterizadas por falta de solidez e superficialidade”, disserta. Aí vem a pergunta: em um mundo com praticamente 8 bilhões de pessoas não vou achar a tampa da panela? Eu brinco que não quero a metade da laranja, quero ela inteira, não quero um bom partido, quero um cara inteiro, e isso é verdade. As pessoas precisam primeiro amar-se, para depois encontrar alguém que as complemente. Em meio às entrevistas para escrever este artigo, esta colunista descobriu que nós estamos sofrendo de dating burnout, nova onda ocasionada pelo uso de aplicativos de namoro.
“Quando se utiliza esse tipo de ferramenta, você acaba dando ‘match’ com muitas pessoas, iniciando múltiplas conversas paralelas e eventualmente indo a vários encontros. Isso pode acabar gerando como consequência o que se chama de ‘dating burnout’, que é uma espécie de esgotamento emocional. Uma ferramenta que eu tenho indicado para as minhas seguidoras e alunas que tem dado super certo é o próprio Instagram. Quando você cria um perfil atraente por lá, você acaba conseguindo atrair pessoas bastante compatíveis, seja para uma amizade ou algo a mais. Vale super a pena, e não tem aquela pressão e a ansiedade que se tem em apps de relacionamento”, ensina Mylla.
A pedido desta coluna, João Borzino resumiu como devemos usar os aplicativos objetivando um resultado positivo:
– É preciso investir no perfil adequado, então nada de fotos sensuais, exposição exagerada do corpo, uso de filtros ou fotos antigas;
– Escolha fotos que transmitam boa aparência, bons ângulos, sem expor outras pessoas (filhos, parentes e amigos);
– É importante que as fotos sejam atuais e que revelem sua forma e aparência hoje, sem joguinhos ou truques;
– Cuidado com ostentação. É muito importante também deixar claro seus hábitos, idade, preferências, religião, escolha política, se tem filhos, etc., mas nada muito incisivo, seja gentil;
– Deixe claro também o que não gosta. Por exemplo: se é contra tabagismo, se é mais caseiro, se não é sedentário, mas comunique isso sempre de maneira delicada;
– Leia o perfil dos candidatos sem fazer um julgamento prévio apenas pelas fotos.
“Cuidado para não se seduzir com o assédio intenso, nem desanimar por baixa aceitabilidade. Aprender a usar os bons aplicativos leva um tempo. Tenha paciência. É claro que esperamos dos usuários mais maduros certa maturidade, porque a maioria das pessoas de mais de 40 anos já teve filhos, família, estabilidade financeira e vivência em outros relacionamentos. Tudo isso proporciona a possibilidade de escolha mais efetiva, digo, são pessoas mais próximas do ‘sei o que quero’, e por isso não querem joguinhos. Vão direto ao ponto, então, tenha sinceridade e responsabilidade afetiva sempre”, revela Borzino. E aí? Bora pro game? A esperança é a última que morre e eu te digo: ninguém morre de amor que dirá de separação ou por solteirice.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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