Empresário investe em teste inovador de tratamento contra o câncer: ‘A tecnologia precisa humanizar a medicina’

Método usado na Espanha, Alemanha e Hong Kong possibilita, a partir da biópsia, recriar mini tumores in vitro e saber com antecedência a eficiência de medicações diversas

  • Por Renata Rode
  • 04/07/2023 19h30 - Atualizado em 05/07/2023 08h26
Divulgação CEO de empresa contra o câncer Felipe Almeida é CEO da Invitrocue Brasil

Muito se fala sobre o uso da tecnologia em prol do ser humano, e nunca uma área foi tão beneficiada por ela quanto a saúde. Foi pesquisando sobre a modernidade que me deparei com um relato emocionado de uma paciente no YouTube — que por motivos óbvios não vou expor aqui — relatando a vitória na luta contra um câncer após um exame inovador realizado no Brasil. “Compartilhando informação de utilidade pública sobre um novo teste chamado Onco-PDO que permite a testagem de 60 medicações em tumores criados em laboratório a partir de fragmentos ou células do tumor do paciente. Eu consegui ter oito medicações testadas, e encontramos duas que induziram à morte mais de 70% dos tumores, graças a Deus”, descreveu ela na legenda do vídeo postado. Diante desse depoimento, esta coluna foi atrás de informações sobre a novidade e entrevistou com exclusividade Felipe Almeida, CEO da Invitrocue Brasil. Formado em direito pela PUC, o empresário atuou no ramo de investimentos e em grandes empresas por muitos anos, até residir em Genebra, na Suíça, e acompanhar de perto o desenvolvimento das empresas de fármaco em busca de um propósito de vida ainda maior. “Não falo somente como investidor, mas principalmente por ser alguém que se preocupa com o que acontece atualmente. A tecnologia cada vez mais precisa buscar humanizar a medicina. E nós queremos mudar a realidade não só em território nacional, como onde conseguirmos”, ressalta o executivo.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil deve registrar 704 mil novos casos de câncer a cada ano entre 2023 e 2025. A estimativa é de um aumento de quase 13% com relação ao triênio anterior. Alguns fatores são preponderantes neste crescimento. Especialistas apontam que a população aumentou, envelheceu, e a idade é um dos elementos de risco. Além disso, o estilo de vida, pouco saudável com relação à alimentação e atividade física, também contribui para o aparecimento da doença. Por outro lado, vários fatores influenciam no sucesso do tratamento dos diversos tipos de cânceres, mas o acesso rápido à saúde está entre os mais importantes. Com os avanços da medicina, desde que realizado um diagnóstico precoce e específico para cada tumor, aumentam as chances de cura. “O teste Onco-PDO é inovador, já que possibilita ao paciente oncológico um tratamento mais assertivo. Geramos organoides a partir do tumor do próprio paciente e, em laboratório, podemos testar diferentes quimioterápicos, analisando a resposta dos organoides a cada tratamento”, explica Almeida. 

Como o câncer é uma doença que requer uma corrida contra o tempo, a proposta de um tratamento individualizado e assertivo é mais que crucial. Aliás, nessa minha proposta de mergulhar no assunto, pedi ao CEO que explicasse o que é organoide: “É o mais perto de um ser vivo in vitro que chegamos para testar medicamentos. Em vez de testar em animais, testamos nessa célula viva em laboratório, obtendo respostas precisas a cada aplicação. Assim, em vez de submeter o paciente a um protocolo extremamente agressivo, que envolve até cinco estágios de luta contra o câncer, oferecemos informação sobre como a célula reagiu a cada tratamento, optando por encurtar o caminho, objetivando eficiência em menos tempo. Por exemplo, um paciente que sofre com câncer no fígado muitas vezes tem o pulmão atacado em determinada quimio. Com o teste, é possível gerar ao médico uma listagem de medicamentos que funcionarão de maneira mais ágil, muitas vezes, sem tantos efeitos ao resto do organismo em si, entende?”, detalha.

Essa tecnologia que, segundo a empresa, é única no Brasil, permite recriar em um ambiente controlado mini-tumores 3D a partir das células cancerosas que foram retiradas por biópsias ou durante a cirurgia. Chamados de PDO´s (Organoides Derivados do Paciente), esses mini-tumores tridimensionais são nutridos, crescem e se organizam em ambiente laboratorial de uma forma muito similar àquela observada no organismo. Fundada em 2012 no Instituto de Bioengenharia e Nanotecnologia da A*STAR, em Cingapura, a Invitrocue desenvolve e comercializa diversas tecnologias bioanalíticas, entre elas a cultura de células 3D. Suas pesquisas estão voltadas a estudos pré-clínicos, como é o caso do teste que menciono. Atualmente a empresa opera na Alemanha, Espanha, Austrália, China, Hong Kong e, no Brasil, mantém uma pesquisa junto à Fiocruz para desenvolvimento de avanços contra a Covid, por exemplo. “Para mim e para nossa empresa, a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva parte necessariamente da saúde e da qualidade de vida de seus cidadãos. Trazer tecnologias inovadoras capazes de transformar a vida das pessoas sempre foi um desafio e também um norte em minha carreira. O teste Onco-PDO irá revolucionar o modo como são feitos os tratamentos de câncer no Brasil trazendo esperança e conforto para as famílias. Quem salva uma vida, salva o mundo inteiro e estamos todos juntos nessa batalha”, declara o empresário.

De maneira prática e resumida, o Teste Onco-PDO está disponível no Brasil para câncer de mama, pulmão, colorretal, pancreático, gástrico, próstata e ovário. Permite que o médico escolha 8 de 60 drogas para testagem e o resultado demonstrará como as células responderam em laboratório. “O relatório, gerado em até 21 dias, fornece informações de como os organoides derivados do paciente reagiram aos diferentes tratamentos testados. O futuro da medicina depende de ações de precisão e claro, é um sonho: ouso acreditar que em um futuro próximo poderemos disponibilizar essa ferramenta para a população menos favorecida, já que, por enquanto, o teste só está disponível em alguns hospitais, via atendimento particular. Nossa ideia é difundir e disponibilizar ao máximo essa nova tecnologia. E eu, enquanto empresário, continuo e continuarei investindo em empresas de biotecnologia, a serviço da vida, sempre”, finaliza. Para quem, como eu já, teve amigos e familiares levados por essa doença, é um extremo avanço saber e ouvir que é possível lutar contra o câncer utilizando as armas certas, não é mesmo? Como a nossa querida paciente oculta que dividiu com internautas seu depoimento, dizendo ser informação de utilidade pública, esta coluna acha que é mais que obrigação difundir notícias boas, sempre que possível… E dedico esse texto especialmente à família Azevedo, como forma de homenagem: tia Emília, Deise e querida prima Rita, sei que onde estão, neste minuto, estarão sorrindo… Amém.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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