Inteligência Artificial e direito: o casamento que vai desafogar o judiciário brasileiro

IA pode analisar grandes volumes de dados para identificar tendências e padrões, algo fundamental e que pode ajudar na resolução mais rápida de casos similares, poupando tempo e recursos

  • Por Ricardo Motta
  • 09/09/2023 08h00
Freepik Homem aperta as mãos de outro homem com braço robóico IA é uma ferramenta com potencial imenso para transformar a forma como lidamos com a litigiosidade de consumo

O excesso de litigiosidade é uma realidade que afeta o sistema judiciário brasileiro, sobretudo no campo do direito do consumidor. Dados recentes mostram que as ações de consumo estão entre as mais recorrentes nos tribunais brasileiros, respondendo por 30% das ações em andamento. Não é de hoje que se fala sobre o assolamento do Poder Judiciário em razão da quantidade de casos de consumo a serem julgados. E não bastassem os desafios do nosso judiciário, a litigiosidade de consumo é uma questão que preocupa tanto consumidores quanto fornecedores de bens e serviços. O acúmulo de processos em tribunais e a ineficiência na resolução de conflitos tornam o cenário desafiador. Neste contexto, a Inteligência Artificial (IA) emerge como um recurso revolucionário para mitigar esses problemas e reduzir a litigiosidade. Hoje analisaremos como a IA pode impactar Judiciário, empresas e escritórios de advocacia no contexto do direito do consumidor, demonstrando como a tecnologia pode ser uma solução eficaz para a redução da litigiosidade de consumo.

O número de ações envolvendo direitos do consumidor não para de crescer. A demanda por soluções rápidas e eficazes fez surgir uma série de ferramentas tecnológicas, mas nenhuma tão impactante quanto a Inteligência Artificial. A IA envolve o uso de algoritmos e modelos de machine learning para realizar tarefas que, geralmente, requerem inteligência humana. Diversas ferramentas já estão sendo usadas no direito. A IA pode analisar grandes volumes de dados para identificar tendências e padrões, algo fundamental e que pode ajudar na resolução mais rápida de casos similares, poupando tempo e recursos. Modelos preditivos podem ajudar a antecipar decisões judiciais, o que pode levar à resolução alternativa de conflitos.

Sabemos que o nosso Poder Judiciário não é exatamente conhecido por ser um lugar de inovações tecnológicas, correto? Mas imagine um cenário em que os juízes e outros profissionais do direito possam contar com um aliado digital para acelerar processos e até mesmo prever resultados com base em dados históricos.  Se pensarmos em benefícios da IA para o Judiciário, podemos considerar o uso de sistemas que permitam a distribuição de processos de forma mais equilibrada entre as varas e juízes, levando em consideração a complexidade e o tempo estimado para a resolução. Além disso, a IA tem o potencial de automatizar processos, tornando a análise de casos mais ágil, permitindo maior eficiência no processamento de ações e redução de custos. Os juízes podem utilizar a IA para fazer uma análise preditiva dos casos, identificando aqueles mais propensos à litigiosidade e encaminhando-os para métodos alternativos de resolução.

Outro exemplo voltado para o Poder Judiciário é o uso de chatbots para atendimento ao público e esclarecimento de dúvidas, diminuindo filas e tempo de espera. Uma vez adotadas pelos tribunais, estas plataformas podem ser usadas para o esclarecimento de dúvidas frequentes e, com isso, evitar a judicialização de muitas ações desnecessárias. De toda forma, embora os chatbots possam fornecer orientações gerais e automatizar processos, é importante considerar que qualquer aconselhamento legal formal ainda deve ser fornecido por um profissional qualificado.

No âmbito empresarial, a IA permite que as empresas possam se beneficiar da tecnologia desde a prevenção até o pós-venda. Podemos citar o uso de ferramentas inteligentes de CRM (Customer Relationship Management), que identificam padrões de comportamento e podem prever conflitos antes que se tornem ações judiciais. Além disso, as empresas ainda podem implementar chatbots de IA que permitam a solução de reclamações dos consumidores em tempo real, reduzindo assim a necessidade de ações judiciais. Com base nos dados coletados, é possível antecipar soluções para problemas que poderiam levar a uma ação judicial, evitando o litígio. Tudo isso permite às companhias uma redução de custos com litígios e melhoria na sua reputação.

Pelos escritórios de advocacia, a IA pode ser utilizada para realização de avaliações prévias do risco associado a um caso, orientando seus clientes a buscarem resoluções alternativas quando mais apropriado. Com a IA, é possível analisar uma grande quantidade de jurisprudências e decisões anteriores para prever o resultado de um caso, o que pode ajudar na tomada de decisão sobre seguir com uma ação ou buscar um acordo. Além disso, ela também permite que escritórios possam se antecipar a problemas, focando na prevenção em vez de apenas no litígio.

Mas o que tudo isso tem a ver com a litigiosidade de consumo?

Simples: a tecnologia tem o potencial de revolucionar a forma como lidamos com conflitos de consumo, tornando o processo mais eficiente, justo e até mesmo mais humano. Em um país como o Brasil, onde a burocracia muitas vezes dificulta a resolução de problemas, essa pode ser a luz no fim do túnel que tanto procurávamos. Se pensarmos em futuro, é certo afirmar que mais pesquisas e investimentos são necessários para maximizar os benefícios e minimizar os riscos. Embora a IA já esteja fazendo ondas no sistema judiciário brasileiro, há ainda um longo caminho a percorrer. É necessário que os profissionais do direito e os desenvolvedores de tecnologia colaborem mais estreitamente para superar os desafios existentes. Mais investimentos em tecnologia e pesquisa também podem acelerar a implementação eficaz da Inteligência Artificial no direito do consumidor.

A IA é uma ferramenta com potencial imenso para transformar a forma como lidamos com a litigiosidade de consumo. O futuro é promissor, mas também repleto de desafios que precisam ser cuidadosamente considerados. A tendência é que a IA seja cada vez mais integrada em todas as etapas do processo judicial e na relação entre consumidores e empresas. A tecnologia está em uma trajetória que aponta para uma revolução no modo como os litígios de consumo são tratados no Brasil. Embora ainda haja desafios éticos e técnicos a serem superados, os benefícios já são inegáveis e indicam um caminho promissor para a otimização do sistema judicial e das relações de consumo. Pode parecer um sonho distante, mas com os avanços da Inteligência Artificial, um futuro menos litigioso parece estar ao nosso alcance. Seja no Poder Judiciário, nas empresas ou nos escritórios de advocacia, a IA está prestes a mudar a forma como vemos e lidamos com os litígios de consumo em nosso país. Quem viver verá!

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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