O domingo sem Silvio Santos

Ele não era apenas um apresentador; era o amigo que visitava nossas casas todos os domingos, que sabia falar com todos — dos mais simples aos mais eruditos — sem perder a essência

  • Por Ricardo Motta
  • 19/08/2024 11h46
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CELSO JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO Apresentador Silvio Santos durante a entrega do Troféu Imprensa O empresário e apresentador Silvio Santos morreu no último sábado (17), aos 93 anos

Peço licença aos leitores desta coluna para um desvio necessário do nosso tema habitual. Neste fim de semana, logo na manhã de sábado, uma sombra de tristeza pairou sobre o Brasil. Silvio Santos, o comunicador que conquistou os corações de milhões e o empresário visionário que revolucionou o mercado, nos deixou. Sua partida não marca apenas o fim de uma era na televisão brasileira, mas também o encerramento de um capítulo fundamental na história do nosso empreendedorismo. Ao refletir sobre o legado de um homem que transformou sonhos em realidade e soube cativar gerações com sua autenticidade e genialidade, honramos a memória de alguém que, com simplicidade e carisma, fez parte da vida de todos nós.

A televisão brasileira despertou em um silêncio profundo na manhã do último sábado (17). Não o silêncio comum de um aparelho desligado, mas aquele que ressoa no coração, carregado de saudade. Silvio Santos se foi, e com ele levou um pedaço inestimável da nossa história, da nossa infância, dos nossos domingos em família. Lembro-me, como se fosse ontem, das tardes em que o ritual era sempre o mesmo: a família reunida na sala, esperando a voz inconfundível de Silvio Santos ecoar pela casa. “Qual é a Música?” era o momento em que todos se reuniam em frente à televisão para testar o conhecimento musical, mas o que realmente desejávamos era aquela presença, aquele sorriso, aquela simplicidade que transformava uma tarde comum em algo especial.

Silvio Santos não era apenas um apresentador; ele era o amigo que visitava nossas casas todos os domingos, que sabia falar com todos — dos mais simples aos mais eruditos — sem perder a essência. Ele entendia o que o povo queria, porque ele era o povo. Foi nas ruas do Rio de Janeiro, vendendo canetas, que aprendeu a se comunicar, e essa comunicação o levou ao topo, mas nunca o distanciou das pessoas. Silvio era um de nós, e talvez por isso sua ausência doa tanto. Seu jeito de conduzir o “Show de Calouros”, a forma carinhosa com que abria a “Porta da Esperança”, e até mesmo as risadas que arrancava com o “Topa Tudo por Dinheiro”, tudo isso fazia parte de uma magia que só Silvio sabia criar. Ele tinha o dom de fazer o simples ser grandioso, de transformar o comum em inesquecível.

Mas o brilho de Silvio Santos não se restringia à televisão. O menino que começou vendendo bugigangas nas ruas, sempre com um olhar atento e uma mente empreendedora, transformou-se em um dos maiores empresários que o Brasil já conheceu. A fundação do Grupo Silvio Santos, que hoje abrange um império diversificado, desde emissoras de televisão e empresas de cosméticos até instituições do setor financeiro, é um testemunho não apenas de sua visão aguçada, mas de uma determinação incansável em construir algo que transcendesse as telas e impactasse a vida de milhões de brasileiros de maneira concreta e duradoura. Silvio Santos não se contentou em ser apenas o rosto mais querido da televisão; ele moldou um legado que continua a influenciar e inspirar gerações.

Um dos traços mais marcantes de Silvio Santos como empresário era sua preocupação genuína com as pessoas que faziam parte de suas empresas. Para ele, sucesso empresarial não era medido apenas pelos números ou pela expansão dos negócios, mas pelo bem-estar de seus funcionários e pela satisfação de seus consumidores. Silvio acreditava que uma empresa só é verdadeiramente grande quando seus colaboradores se sentem valorizados, respeitados e parte integrante da missão maior da organização.

Essa visão reflete um empreendedorismo humanizado, onde as pessoas são o centro de todas as decisões. Silvio fazia questão de estar presente, de conhecer as pessoas que trabalhavam para ele. Para seus funcionários, ele não era apenas o “patrão”, mas um líder que se preocupava com suas condições de trabalho, com seu desenvolvimento e com suas vidas pessoais. Ele sabia que o sucesso de suas empresas estava diretamente ligado ao bem-estar daqueles que, todos os dias, dedicavam seu tempo e talento para fazer seu império crescer. E essa preocupação não era superficial; era uma extensão de sua filosofia de vida, de sua crença de que o sucesso deve ser compartilhado e de que cada pessoa é fundamental para o alcance dos objetivos maiores.

Além disso, Silvio Santos sempre teve um olhar atento e cuidadoso para com seus consumidores. Ele entendia que a confiança do público era o maior patrimônio que uma empresa poderia ter. Por isso, dedicava-se a oferecer produtos e serviços de qualidade, que não apenas atendiam, mas superavam as expectativas do seu público. Essa conexão com o consumidor, construída ao longo de décadas, é o que fez do Grupo Silvio Santos uma referência de sucesso e respeito no mercado. Silvio Santos era assim: um homem que entendia de negócios, mas que, acima de tudo, entendia de gente. Ele sabia que o verdadeiro sucesso não está apenas nos números, mas no impacto que causamos na vida dos outros. E, nesse aspecto, Silvio foi imbatível.

Nesse domingo, enquanto a televisão permanecia ligada, algo parecia faltar. Não era apenas a ausência de um programa; era a ausência de uma presença que se fez constante em nossas vidas. Era o vazio deixado por aquele que, com um simples aceno e um sorriso sincero, fazia o Brasil inteiro sorrir junto. A saudade já bate forte, e talvez essa seja a maior homenagem que podemos prestar: lembrar. Lembrar das risadas, das emoções, das tardes em frente à TV, da figura que fez parte da nossa vida de uma maneira tão única. Silvio Santos nos deixou, mas seu legado é eterno. Ele estará sempre presente em cada risada, em cada memória de domingo, em cada história que contaremos aos nossos filhos e netos sobre o maior comunicador e empresário que este país já viu.

O Brasil jamais esquecerá o que você fez por todos nós, Silvio. Porque líderes vão e vêm, mas ícones, como você, são eternos. Descanse em paz, grande mestre. Seu legado nos lembra que sucesso é mais do que conquistas; é o impacto que deixamos nas vidas daqueles que cruzam o nosso caminho. E nesse quesito, Silvio Santos foi, é, e sempre será imbatível.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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