Episódio conhecido como ‘a muamba do tetra’ marcou a volta da seleção brasileira depois da conquista nos EUA em 1994 

A equipe comandada por Carlos Alberto Parreira superou as críticas e recolocou o país no topo do futebol 

  • Por Thiago Uberreich
  • 20/11/2024 09h00
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MASAO GOTO FILHO/ESTADÃO CONTEÚDO Jogador Romário da Seleção Brasileira observa o capitão Dunga levantar a taça após a conquista do tetracampeonato na Copa de 94 Dunga, capitão do tetra, levanta a taça da Copa do Mundo após vitória sobre a Itália nos pênaltis

A torcida brasileira relembrou em julho de 2024 as três décadas da conquista do tetracampeonato. Foi uma vitória emblemática e que tirou a seleção de uma fila incômoda de 24 anos em Copas. Nos Estados Unidos, a dupla Bebeto e Romário fez a diferença e, na final contra a Itália, Roberto Baggio desperdiçou a quinta cobrança e a nação verde e amarela, ainda impactada pela morte de Ayrton Senna, pôde extravasar a alegria. 

Apesar da festa pelo país, quando milhões de pessoas foram acompanhar a passagem dos atletas em capitais brasileiras, uma grande polêmica envolveu o retorno e até ofuscou as reportagens sobre o tetra. Produtos comprados nos Estados Unidos pelos jogadores e integrantes da comissão técnica foram liberados pela alfândega no Rio de Janeiro sem o pagamento de impostos. O caso gerou intenso bate-boca entre integrantes do governo federal, Receita, CBF e atletas. Até mesmo os candidatos à presidência da República, pois era ano eleitoral, entraram no debate. A imprensa fazia enquetes com a população para saber se os campeões “mereciam” não pagar os tributos como “prêmio” pelo título.

O caso foi mais um prato cheio para a imprensa que rotulava o episódio de “escândalo da muamba”, “muamba do tetra” e por aí vai. Pelas regras da Receita Federal, cada pessoa podia entrar no país com 500 dólares em produtos isentos. Cerca de 1 milhão de dólares deixaram de ser arrecadados naquele instante. Autoridades do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro acusaram o então ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, de ter dado a ordem para liberar as bagagens, o que foi negado por ele. O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, ameaçou devolver as medalhas entregues aos jogadores pelo presidente Itamar Franco, caso fosse feita a inspeção das mercadorias. O cartola foi acusado de pressionar os fiscais da Receita e a liberação só se deu após um telefonema ao então ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves. 

Em meio à polêmica, o secretário-geral da Receita, Osires Lopes Filho, pediu demissão por discordar do não pagamento dos impostos. O jornalista Jânio de Freitas, em artigos na época, informou que assessores de Rubens Ricupero tentaram buscar brechas na lei para desautorizar a quitação dos tributos. No entanto, não havia o que discutir: o procedimento era totalmente irregular. A Justiça intimou o ministro a prestar esclarecimentos e a Varig teve de repassar a lista com os 97 passageiros do voo de volta ao Brasil, sendo 56 convidados, com a discriminação das bagagens: eram 17 toneladas. Na ida, o volume não passava de 2 toneladas.

Em agosto de 1994, a CBF quitou apenas uma parte do valor devido, enquanto jogadores e integrantes da comissão técnica pagaram as dívidas com o Fisco. O episódio ainda teve efeitos nos anos seguintes, com muita discussão na Justiça. Em 2009, depois de uma ação movida pelo Ministério Público Federal, Ricardo Teixeira foi condenado. Ele teve os direitos políticos suspensos por três anos em razão dos prejuízos causados aos cofres públicos.

Campanha da seleção na Copa de 1994 (Estados Unidos)

Primeira fase

Brasil 2×0 Rússia
Brasil 3×0 Camarões
Brasil 1×1 Suécia 

Oitavas de final 

Brasil 1×0 Estados Unidos 

Quartas de final

Brasil 3×2 Holanda

Semifinal 

Brasil 1×0 Suécia 

Final 

Brasil 0x0 Itália – pênaltis 3×2

Dentro de campo, a seleção, comandada por Carlos Alberto Parreira, foi muito criticada, apesar da conquista do tetra. Ouça, diretamente dos arquivos da Pan, a campanha da brasileira em campos americanos. 

Depois de 24 anos, finalmente o Brasil é tetra

 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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