Continuo a defender publicação de todas as delações da Odebrecht

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 20/12/2016 09h36
Divulgação/STF Teori Zavascki - STF

A Odebrecht, convenham, fez por último, mas não deixou a desejar: nada menos de 77 acordos de delação premiada. Os depoimentos todos chegaram ao Supremo e foram mandados para a sala-cofre, no terceiro andar, uma vez que são, bem…, quase sigilosos. Ou alguém tem alguma dúvida de que a indústria de vazamentos vai continuar?

Agora a bola está com o ministro Teori Zavascki, o relator, a quem cabe homologar ou não os acordos. O mais provável é que sejam todos homologados para que a fila possa, então, andar.

Sei que vou dizer algo que pode parecer exótico, mas eu o faço sem receio. Acho que tudo deveria ser posto na Internet. Assim ficaríamos sabendo do conjunto da obra. Por que isso seria bom? Porque é evidente que há vazamentos orquestrados para atingir este ou aquele. Até os gramados de Brasília sabem que a bola da vez é Michel Temer. Quanto mais instabilidade se criar no governo, tanto melhor para aqueles que estão descontentes com a sua agenda.
O material chegou ao Supremo no último dia antes do recesso judicial. Segundo o ministro, seu gabinete vai, sim, trabalhar no mês de janeiro. É pouco provável que algo vaze dali. Mas existem cópias, não é? Não se descarte que a imprensa seja premiada com um baita peru até na noite de Natal… Sabem cumé? Um daqueles vazamentos de fazer tremer a República.

As revelações de executivos da Odebrecht, apelidadas de “delação do fim do mundo”, se tornaram apenas as mais bombásticas, mas ainda não encerraram o ciclo. Consta que o casal João Santana e Mônica Moura, por exemplo, também prepara o seu arrazoado. A coisa vai longe.

Por que publicar tudo? Por que defendo que se torne tudo público, ainda que isso vá causar certa dor de cabeça para inocentes? Porque é o melhor para a República. O caso da Odebrecht é exemplar. Tudo indica — a ver — que as tais centenas de políticos listados reúnem de tudo: doações legais sem propina, doações legais oriundas de propina, doações ilegais com propina e até doações ilegais sem propina. Os políticos citados já teriam como, desde já, organizar a sua defesa junto à opinião pública. Aquela a ser apresentada em juízo tem de aguardar, por óbvio, a decisão da… Justiça.

Por mais heterodoxo que pareça, ainda é melhor do que esse clima de suspeição generalizada, que mistura todos os gatos num mesmo saco, de modo que todos são pardos — ou rajados.

Zavascki lamentou os vazamentos em conversa com a imprensa, mas o fez em tom meio fatalista, como quem diz que não há mesmo nada a fazer. Ora, se não há, então que tudo venha à luz, para o bem da República e do processo político.

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