Conversa entre Marzagão e Mercadante cumpre requisitos da obstrução da Justiça
E Aloizio Mercadante, hein? Não vai ter um mínimo de hombridade, só um pouquinho, para se demitir? Ou também ele estará de olho agora no foro especial por prerrogativa de função? Já volto ao homem. Antes, algumas considerações.
Em entrevista a Natuza Nery, da Folha, o senador Delcídio do Amaral, que implica nada menos de 74 pessoas em sua delação, se diz um “profeta do caos”. É claro que gente que recorre a essa metáfora tem de ser vista com cuidado. Pode não estar muito boa da cachola.
Tudo o que ele diz tem de ser meticulosamente investigado. Profetas do caos estão interessados na realização de suas profecias, certo? Assim, há o risco de ele estar misturando culpados e inocentes; fatos e versões; desejo e realidade. Um “profeta do caos” precisa de estragos.
Mais: dado o número de pessoas que Delcídio põe na mira, a gente tem a impressão de que ele transitava em todos os porões da República. Não que seja impossível, claro!
Faço essas observações para destacar o alcance das acusações, não para contestá-las, e para chamar atenção para o que vem pela frente. A Lava Jato, pelo visto, tem alguns bons anos de vida útil.
De volta a Mercadante
Pois bem… Por mais que Delcídio agora esteja a fim de brincar de homem mau e, quem sabe?, se divertindo secretamente com os apuros de seus alvos, isso não muda em nada a situação de Mercadante.
Ele não reúne condições morais mínimas para continuar à frente o ministério da “Pátria Educadora”. Não obstante, diz que não renuncia. Pois é… Trata-se de mais um que, sem o foro especial por prerrogativa de função, poderia ir parar lá da 13ª Vara Federal de Curitiba.
Deveria estar preso
Venham cá: o que Mercadante fez é muito diferente do que fez Delcídio? Não me parece. O senador tentava impedir Nestor Cerveró de falar, e Mercadante buscava calar o senador. Nos dois casos, trata-se de interferir no comportamento de alguém que está sob custódia, aos cuidados da Justiça Federal.
Não há um só bom motivo para a Procuradoria-Geral da República ter pedido ao STF a prisão de Delcídio, mas não ter feito a mesma coisa com Mercadante — mormente porque este, num dado momento, sugere que falava em nome da presidente.
Em suma, se a delação de Delcídio pode gerar uma dúvida aqui, outra ali, a ação de Mercadante não gera dúvida nenhuma. Sua conversa com Eduardo Marzagão cumpre todos os requisitos da obstrução da Justiça.
E quem quiser que acredite que Dilma não sabia de nada.
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