Coreia do Norte e algumas verdades inconvenientes

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 19/04/2017 11h09
Agência EFE Tentativa de lançamento de míssil na Coreia do Norte

Quem acompanha meu trabalho, sabe que quando explode uma crise internacional tento ir fundo, de forma obcecada. Estou, portanto, afundando na Coreia do Norte, uma daquelas crises ingratas e inglórias, sem boas soluções, com alternativas variando do cataclisma nuclear a algum outro tipo de cataclisma.

Ninguém sabe ao certo qual é a capacidade nuclear norte-coreana e se os mísseis mostrados em parada militar estão mais para desfile de escola de samba no carnaval, ou não.

No entanto, sabemos do poder destruidor da tirania de Kim Jong-un com armas convencionais, um poder capaz de causar muito estrago ali pertinho, Seul, capital da Coreia do Sul, a 50 quilômetros da zona desmilitarizada. E se Saddam Hussein e Bashar Assad usaram armas químicas, nem melhor pensar na falta de escrúpulos de Kim Jong-un se a coisa engrossar para ele.

Então, vamos nos resignar? Os lances diplomáticos para conter as ambições nucleares norte-coreanas são uma crônica de fracasso. Ian Buruma, jornalista anglo-holandês, conhece bem a história. Ele conta que em 1994, o governo Clinton prometeu ajuda à Coreia do Norte em troca do congelamento do programa nuclear. Em 2002, o regime renegou o acordo. O que ela seria sem o programa nuclear, a não ser uma sanguinária e empobrecida tirania?

Clinton namorou a ideia de bombardear as instalações nucleares norte-coreanas, mas concluiu que o risco era intolerável. Hoje seria ainda maior. Como no caso iraniano (que fez acordo nuclear com a comunidade internacional), as instalações norte-coreanas estão dispersas. Sabotagem cibernética talvez cause estragos, mas nunca será fulminante.

Ian Buruma tem um raciocínio direto que me incomoda neste caso norte-coreano. Ele reflete que parece haver pouca escolha, exceto conviver com a Coreia do Norte como poder nuclear. E o máximo de cooperação que os americanos podem conseguir dos chineses é assegurar que as armas nucleares não serão usadas.

A ideia de batalhar pela unificação da península coreana é salgada. A conta vai morrer com os EUA e o Japão. Buruma conclui o óbvio: a situação é horrível, mas se resignar é preciso. Infelizmente, a vida é assim para quem nasceu na Coreia do Norte. Afinal viver sob o tacão de uma ditadura particularmente odiosa é um destino terrível, mas ainda melhor do que morrer em uma guerra nuclear.

Como eu disse, a linha de raciocínio de Ian Buruma me incomoda e acredito que, quanto mais coexistência com o regime norte-coreano, pior. No entanto, no meu círculo vicioso mental, não sei como os caubóis geopolítico podem pedir a milhões de coreanos (de norte a sul) e vizinhanças da península que aceitem a necessidade de um desfecho mais incisivo para a crise.

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