Cuidado! Há duas mentiras evidentes na delação de Sérgio Machado

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 16/06/2016 11h31
Brasília - O Senador Aécio Neves dá entrevista após reunião de líderes partidários no Senado para discutir a criação da comissão especial do impeachment (Marcelo Camargo/Agência Brasil) Marcelo Camargo/Agência Brasil Senador Aécio Neves (PSDB) - ABR

E Sérgio Machado decidiu deixar claro que, no que lhe diz respeito, a canalhice independe de cor partidária.

Segundo afirmou, quando ainda era tucano, ajudou a arrecadar recursos de forma ilícita para a eleição de 50 deputados, que depois colaboraram para fazer de Aécio Neves presidente da Câmara — o hoje senador teria sido também um dos beneficiários.

Segundo Machado, ele próprio, Aécio e Teotônio Vilela Filho teriam armado um esquema ilegal, que teria movimentado R$ 7 milhões, nas eleições de 1998. Parte dos recursos teria origem na campanha de FHC, e o intermediário seria o ex-ministro e ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros.

Machado também endossou, dando apenas opinião, sem acrescentar evidência ou fato novo, que o senador seria beneficiário do esquema de Furnas.

Então vamos ver.

Aécio emitiu uma nota a respeito em que se lê o seguinte:
“São acusações falsas e covardes de quem, no afã de apagar seus crimes e conquistar os benefícios de uma delação premiada, não hesita em mentir e caluniar. Qualquer pessoa que acompanha a cena política brasileira sabe que, em 1998, sequer se cogitava a minha candidatura à presidência da Câmara dos Deputados, o que só ocorreu muito depois.
Essa eleição foi amplamente acompanhada pela imprensa e se deu exclusivamente a partir de um entendimento político no qual o PSDB apoiaria o candidato do PMDB à presidência do Senado e o PMDB apoiaria o candidato do PSDB à presidência da Câmara dos Deputados. A afirmação feita não possui sequer sustentação nos fatos políticos ocorridos à época”.

O que eu sei
Luiz Carlos Mendonça de Barros nunca atuou como caixa de campanha do PSDB. Isso é simplesmente mentira. Nem mesmo tinha interferência nessa área, seja como presidente do BNDES naquele ano (de novembro de 1995 a abril de 1998), seja como ministro das Comunicações (abril de 1998 a novembro de 1998).

Aécio fala a verdade quando afirma que não se cogitava seu nome como presidente da Câmara em 1998, ano da eleição. Isso só foi acontecer em fevereiro de 2001. Entendam: se houve ou não captação irregular de dinheiro, que se investigue. Afirmar que a candidatura de Aécio à Presidência da Câmara foi calculada com três anos de antecedência e que se procurou eleger uma bancada com esse fim é um delírio absoluto.

Qualquer jornalista que cobria política à época sabe que isso é uma mentira gritante.

Ah, claro!, Aécio era líder do PSDB em 1997, e havia uma notícia ou outra de que poderia ambicionar a Presidência da Câmara um dia, mas era uma especulação sem consistência ainda, que poucos levavam em consideração.

Mais: em 1998, quem presidia a Casa era Michel Temer, que foi reeleito para o posto em 1999, para o mandato encerrado em fevereiro de 2001. E foi para suceder ao segundo mandato de Temer que Aécio disputou com o candidato do PFL, Inocêncio de Oliveira, vencendo-o por 283 votos a 117.

É fraudar a história afirmar que se montou um esquema para eleger 50 deputados em 1998, que só cuidariam, então, da eleição de Aécio para a Presidência da Casa três anos depois, colaborando, nesse ínterim, para reeleger Temer.

A delação premiada é um instrumento eficaz, sim, como se vê para desmontar a bandidagem encastelada no poder. Mas também é preciso tomar cuidado.

Por definição, os que a ela se dedicam não são exatamente monumentos morais. Machado, por exemplo, não é. Notem que ele não teve pejo de botar a própria família no esquema de roubalheira. Um pai a quem sobrasse um tanto de decência esconderia os crimes da família. Ele chamou os filhos para sócios e operadores da bandalheira.

Que se investigue tudo. Mas é bom tomar cuidado. Essa história da eleição de uma bancada em 1998 para fazer Aécio candidato três anos depois, tendo Luiz Carlos Mendonça de Barros como operador, é simplesmente mentirosa.

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