Data Magna da Marinha do Brasil: Heróis do passado transformam o presente e inspiram o futuro

Em artigo especial para a Jovem Pan, Comandante da Marinha expõe programas estratégicos da Força Naval, desde a vigilância da Amazônia Azul, à segurança do comércio exterior e à assistência médica e odontológica a comunidades ribeirinhas

  • Por Almir Garnier Santos*
  • 14/06/2022 14h42 - Atualizado em 14/06/2022 15h13
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Divulgação - Marinha do Brasil/SG PJOHSON A Fragata Liberal (F-43), um dos melhores navios da Marinha do Brasil A Fragata Liberal (F-43), um dos melhores navios da Marinha do Brasil, durante o 157º aniversário da Batalha Naval do Riachuelo

No ano em que o Brasil celebra o bicentenário da sua independência, é oportuno lembrar que a nossa liberdade e grandeza como nação demandaram o sacrifício de muitos patriotas que lutaram pela unidade, integridade e soberania do país, em diversos capítulos da nossa história, como foi na Guerra da Tríplice Aliança, iniciada em 1864, quando forças de outra nação invadiram o território brasileiro. Naquele que foi o maior conflito armado já ocorrido no continente sul-americano, coube às forças navais brasileiras a primeira grande e decisiva vitória, obtida em 11 de junho de 1865, nas águas do rio Paraná: a Batalha Naval do Riachuelo. Inspirados pela mensagem “o Brasil espera que cada um cumpra o seu dever”, transmitida pelo Almirante Barroso, nossos marinheiros e fuzileiros navais resistiram bravamente a um aguerrido ataque de um inimigo mais adaptado ao ambiente fluvial. Ao sinal “sustentar o fogo que a vitória é nossa”, nossos patriotas reverteram a difícil situação e bateram, definitivamente, as forças navais inimigas. Tal feito nos garantiu o controle dos rios platinos, permitindo o contínuo apoio logístico e de fogo às forças terrestres e impondo, ao adversário, um bloqueio naval que o impediu de receber reforços.

Os legados dessa vitória são comemorados a cada 11 de Junho, Data Magna da Marinha do Brasil, consagrada não à celebração da guerra em si, algo sempre doloroso, mas à exaltação de atributos como coragem e resiliência, sagacidade e iniciativa, patriotismo e espírito de sacrifício, tão demonstrados por nossos militares no calor daquela batalha. Um dos vultos que sintetizam tais atributos é o Imperial Marinheiro Marcílio Dias, nosso herói de origem humilde e baixa graduação, tal qual grande parte dos que deram suas vidas defendendo a honra e integridade do Brasil em Riachuelo. Marcílio Dias ingressou na Armada Imperial aos 17 anos, quando sua mãe, preocupada com o comportamento rebelde do filho, inscreveu-o na Escola de Grumetes do Rio de Janeiro, a fim de transformar o futuro dele. Marcílio Dias tornou-se, então, militar de conduta exemplar. Chefe do canhão do rodízio raiado de ré da Corveta “Parnaíba”, ao ver este navio abordado por três navios inimigos, travou, armado de sabre, luta corpo a corpo contra quatro inimigos, abatendo dois deles, mas tombando, afinal, ferido de morte, tornando-se imortal para sua Marinha e seu povo.

Reverenciando essas memórias, cuidamos para que não faltem, em nossas fileiras, homens e mulheres que não esmoreçam diante dos desafios e obstáculos ao cumprimento da missão. Assim, os tripulantes da nossa invicta Marinha seguem firmes em seu trabalho diuturno, buscando prover o país com uma Força Naval pronta para fazer frente a qualquer ameaça à sua soberania e capaz de defender os interesses da nação, onde quer que eles se apresentem. Por essa razão, investimos na manutenção e na continuidade dos nossos principais programas estratégicos, que visam à autonomia e à perenidade do ciclo evolutivo tecnológico, fortalecendo a Base Industrial de Defesa, gerando empregos e renda para o trabalhador brasileiro, além de inserir o Brasil no domínio de sensíveis áreas do conhecimento.

Protegendo nossas riquezas, mantemos constante vigilância em nossas águas jurisdicionais e a presença de nossos navios nos mais de 5 milhões de km² da nossa Amazônia Azul, o mar que nos pertence e que constitui um gigantesco ativo ambiental e reserva estratégica de recursos naturais para as atuais e futuras gerações de brasileiros. Dessa forma, contribuímos para o combate a ilícitos como pesca ilegal, tráfico de entorpecentes e contrabando; e provemos a segurança marítima imprescindível ao funcionamento da nossa economia, considerando que 95% do comércio exterior brasileiro se dá por via marítima, 97% das nossas comunicações com o mundo são feitas por cabos submarinos; e que 95% do petróleo e 80% do gás natural do Brasil são extraídos do mar.

Em apoio à nossa política externa, a Marinha do Brasil mantém participação em exercícios e operações internacionais, estreitando laços de cooperação com marinhas amigas, com ênfase nas nações do nosso entorno estratégico. Cuidando da nossa gente, trabalhamos pela preservação da vida, da saúde e do bem-estar dos brasileiros, promovendo a segurança da navegação e a salvaguarda da vida humana; fiscalizando embarcações; provendo os navegantes com informações seguras; e conduzindo operações de busca e salvamento no mar e em águas interiores. Também levamos assistência médica e odontológica a comunidades ribeirinhas de difícil acesso nas regiões amazônica e do Pantanal, por meio dos nossos “Navios da Esperança”; e atuamos com prontidão e presteza no apoio à Defesa Civil em catástrofes naturais, como nas fortes chuvas que, neste ano, atingiram Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pernambuco.

Marinha participa de operação de resgate em Pernambuco

Marinha participa de operação de resgate em Pernambuco após Estado ser castigado por chuvas intensas – Foto: Divulgação/Marinha do Brasil

O exemplo dos heróis de Riachuelo constituem uma inesgotável reserva de inspiração que nos permite oferecer o nosso melhor em prol da nação brasileira. Por isso, a minha, a sua, a nossa Marinha do Brasil permanece fiel aos seus 200 anos de história, contribuindo para a manutenção da unidade, integração e desenvolvimento do país. Somos uma instituição sólida e coesa, que permanece firme no timão, a navegar em rumos seguros, tanto nas calmarias como em mares tempestuosos. Temos a convicção firme de que mar calmo não faz bom marinheiro, razão pela qual estamos sempre prontos para tempestades de qualquer ordem. Viva o Brasil! Viva a Marinha!

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*Almirante de Esquadra Almir Garnier Santos é Comandante da Marinha do Brasil. Nascido na cidade do Rio de Janeiro em 1960,  possui longa trajetória na Marinha. Com apenas dez anos, ingressou na extinta Escola Industrial Comandante Zenethilde Magno de Carvalho, como aluno do curso de formação de operários. Aos 18 anos, entrou para a Escola Naval, onde se formou na primeira colocação no Corpo da Armada.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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