As delações tardias como “obra aberta”. Ou: Chamem Tarantino para filmar novas eleições!

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 27/06/2016 14h07
Luis Macedo / Câmara dos Deputados - 26/05/15 José Aldemário Pinheiro Filho

A delação de Léo Pinheiro, sócio e ex-presidente da OAS, é, pelo visto, uma obra aberta, um “work in progress”. Está em curso. A cada pouco vaza algo bombástico a respeito. Dela, já se disseram várias coisas:
– vai enterrar Lula de vez porque deixará claro que ele sempre soube das obras do sítio e do apartamento;
– vai revelar que emissários de Marina Silva pediram recursos à empresa, só que teria de ser pelo caixa dois — acabou havendo uma doação oficial para o PV do Rio;
– segundo a Folha de domingo, também o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, será alvo da “Lista de Léo”.

Segundo o jornal, o empreiteiro que era o maior amigão de Lula vai dizer que a empresa pagou propina a auxiliares de Aécio, então governador de Minas, pela construção da chamada Cidade Administrativa, inaugurada em 2010, ao custo de R$ 1,26 bilhão. Aécio nega qualquer irregularidade e diz que as acusações são falsas e absurdas.

No relato atribuído a Pinheiro, o intermediário do suborno seria Oswaldo Borges da Costa Filho, que teria sido incumbido de receber valor correspondente a 3% do que cabia à OAS. Ele é apontado como tesoureiro informal das campanhas de Aécio entre 2002 e 2014. Com 25,71% do contrato, a empreiteira ergueu um dos três prédios do complexo, em companhia da Odebrecht (60%) e da Queiroz Galvão (14,25%). Se for verdade o pagamento dos 3% no caso da OAS, ele incidiu sobre R$ 102,1 milhões — vale dizer: R$ 3 milhões.

Não é petrolão
Caso se venha a confirmar o conteúdo da delação e caso o Ministério Público Federal venha a pedir abertura de inquérito, este, se houver, não ficará sob a alçada de Teori Zavascki. A razão é simples: ele é relator do petrolão, e essa acusação nada tem a ver com aquele escândalo. A exemplo do que fez em outras circunstâncias, o ministro certamente abrirá mão da relatoria e, em havendo investigados com foro especial, será sorteado um novo ministro.

Eis aí por que a situação política brasileira não se estabiliza tão cedo, independentemente do governo de turno. Tomem esse caso de Minas: em que momento, afinal de contas, Léo teria decidido falar da suposta propina paga a Borges da Costa? Que liame isso tem com o que estava sendo investigado? Em particular, nenhum! Mas certamente os que optam tardiamente pela delação premiada têm a obrigação do ineditismo, de levar os procuradores a mares nunca dantes navegados.

Não sei a quantos governos a OAS prestou serviços. Sendo tudo verdade, pagou propina nas obras para o governo federal e também para o de Minas: situação e oposição, como a dizer que, no Brasil, todos, de todas as correntes, se estreitam num abraço insano. E nos outros Estados?

As coisas vão se dando num ritmo vertiginoso. Depois de o PMDB apanhar seguidamente por quase um mês em razão das acusações de Sérgio Machado, a Custo Brasil devolveu o protagonismo da bandalheira para o PT, com a prisão de Paulo Bernardo, ao mesmo tempo em que outra operação, a Turbulência, tragava a campanha de Eduardo Campos e Marina Silva.

Bem, que a delação de Léo Pinheiro se defina logo e que se decrete, também nesse caso, o fim do sigilo. Tornou-se a única maneira de acabar com os vazamentos seletivos.

Para encerrar: imaginem novas eleições, como querem alguns, nesse ambiente… Teríamos de chamar Tarantino para filmar aquele momento em que todos atiram em todos e morrem no fim.

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