Delcídio já vai tarde; acho que seria inaceitável tê-lo votando contra Dilma. A nossa ética pede mais do que isso

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 11/05/2016 12h17
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CAE- pauta: projeto que permite a compensação de débitos previdenciários com créditos referentes a outros tributos federais é um dos itens da pauta da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). O projeto revoga o impedimento da Lei da Super Receita e o benefício é incluído na lei que trata da legislação tributária federal, bem como das contribuições para a seguridade social. Mesa: Presidente da CAE, senador Delcídio Amaral (PT-MS). José Cruz/Agência Senado Delcídio do Amaral - ASENADO

E Delcídio do Amaral teve seu mandato cassado por 74 votos a favor, nenhum contra e apenas uma abstenção, que é de praxe, do senador João Alberto (PMDB-MA), presidente do Conselho de Ética. Para o bem da política, está inelegível por oito anos. Um dos políticos mais influentes do país, quadro graúdo do petismo, despencou das alturas. Quando foi preso, no dia 25 de novembro do ano passado, era nada menos do que líder do governo no Senado.

O ex-senador é acusado de integrar uma organização criminosa e de tentar obstruir investigações da Lava Jato. Gravação que veio a público, feita pelo filho de Nestor Cerveró, indica que ele participava de um plano para garantir a fuga do ex-diretor da Petrobras, que negociava um acordo de delação à época.

O próprio Delcídio, depois, decidiu colaborar, num testemunho considerado “bomba”. Segundo o agora ex-senador, tanto Lula como Dilma tinham ciência das irregularidades ocorridas em seus governos. Mais: ele afirmou que empreendeu negociações com Cerveró atendendo ao comando do sr. Luiz Inácio Lula da Silva.

A sessão reservou tempo para a defesa, mas Delcício e seu advogado não compareceram. Antonio Figueiredo Basto, defensor do senador cassado, classificou a sessão de “comédia de fantoches”. Referia-se ao fato de Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, ter negado um recurso para incluir elementos novos ao processo, o que poderia atrasar a tramitação.

Querem saber? Delcídio está muito bem cassado. A gravação que veio a público e o conteúdo de sua delação dizem por quê. Se, ao colaborar, ele terá benefícios na área penal, não há razão nenhuma para que não seja punido com severidade máxima na esfera política.

Com Delcídio fora, é possível que haja um voto a menos em favor da cassação de Dilma no Senado e um a mais em favor de sua absolvição. O suplente do cassado é o milionário Pedro Chaves dos Santos Filho (PSC-MS), um empresário que é amigão de Lula. O homem também é ligado por laços familiares a José Carlos Bumlai, o pecuarista que foi o faz-tudo do chefão petista e que também está preso. Neca, filha de Pedro Chaves, é casada com Fernando, filho de José Carlos.

Nesta quarta, se quiser, o novo senador já pode votar na sessão que vai decidir a admissibilidade ou não do processo contra a presidente Dilma.

Delcídio é o terceiro senador a ser cassado. Antes dele, houve Luiz Estevão, com 52 votos, em 2000, e Demóstenes Torres, com 56, em 2012.

Querem saber? Ainda que eu ficasse mais contente e mais tranquilo com um voto a mais contra Dilma e um a menos a favor — se é que se vai cumprir o esperado —, acho que seria indecente ver Delcídio votar o afastamento da presidente. Ainda que Renan tenha prestado um favorzinho à petista, vamos ser claros: há o certo e há o errado. E Delcídio votar seria, certamente, um erro.

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