Dilma quer disputar quarto turno das eleições em São Paulo; entenda

  • Por Jovem Pan
  • 28/10/2014 11h41
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Reinaldo, Dilma concedeu duas entrevistas ontem: ao Jornal da Record e ao Jornal Nacional. E aí?

Fiquei com a impressão que ela quer disputar o quarto turno das eleições em São Paulo. “Quarto turno, Reinaldo?”, explico já. Olá, internautas e amigos da Jovem Pan.

O governo está em plena, como dizer?, “ofensiva de mídia”. Nesta segunda, a “represidenta” concedeu duas entrevistas: uma ao “Jornal da Record”, da TV Record, e a outra, quase em seguida, ao “Jornal Nacional”, da TV Globo. De substancial – ou quase isso – disse a mesma coisa em ambos, repetindo não apenas fragmentos de raciocínio, mas também expressões: “o recado das eleições é a mudança”; vai investigar a Petrobras “doa a quem doer”, vai fazer um governo inclusivo, com especial atenção “às mulheres, aos negros, aos jovens”; será a presidente de todos os brasileiros. E vai por aí.

No JN, ela se mostrou calma e pacífica, mas se irritou, foi visível, com a repórter Adriana Araújo, da Record, que conduziu a entrevista com extrema competência e correção. Não tem jeito: a represidenta gosta é que lhe abram o microfone para falar. Qualquer tentativa de diálogo verdadeiro, ainda que absolutamente pacífico, é logo rechaçada ou com grosserias intimidadoras ou com raciocínios tortos. A entrevista com Adriana, muito mais reveladora, teve o condão de deixar claro, por culpa exclusiva de Dilma, que a disposição para o diálogo da governanta é conversa para boi dormir.

Dilma, claro, não adiantou que medidas pretende tomar na área econômica. Até porque, gente, quando ela tiver alguma ideia, talvez revele. De resto, nesse caso, “o que fazer” está intimamente atrelado a “quem vai fazer”. E já está claro que não será Guido Mantega, aquele que afirmou que a política econômica foi aprovada nas urnas.

Adriana cumpriu a sua obrigação e perguntou qual será o perfil do próximo ministro da Fazenda, citando, por exemplo, Luiz Trabuco, presidente do Bradesco, lembrado frequentemente como um possível nome. Dilma ficou irritada e tentou ridicularizar a repórter: “Você está lançando um nome, Adriana?”. A repórter reagiu muito bem e deixou claro que seu papel era perguntar.

Mas furiosa mesmo Dilma ficou quando Adriana tocou nos quase oito milhões de votos a mais que Aécio Neves teve em São Paulo. Por que teria acontecido no estado com a maior economia do país, com a maior população? Dilma disse, então, coisas realmente estupefacientes. Indagou por que a repórter não lhe perguntava sobre os 11 milhões de votos a mais que teve no Nordeste, ao que respondeu a jornalista: “Eu lhe pergunto então”.

A Dilma que até ali vinha falando em diálogo, em inclusão, em superar as diferenças, descambou para o eleitoralismo mais tosco e afirmou que não podia compreender que São Paulo vivesse a maior crise de água do Brasil e ninguém tocasse no assunto, sugerindo, o que é uma mentira descarada, que a imprensa estaria a proteger o governo do Estado. E emendou para espanto dos fatos e da língua portuguesa: “Fosse com qualquer governo da situação, nós seríamos criticados diuturna e noturnamente”. Sugiro a vocês que façam uma pesquisa nos arquivos na imprensa paulista sobre o assunto. A insistência beirou o terrorismo.

A represidenta que diz querer a união, que afirma ser preciso superar as divergências do período eleitoral, que anuncia ser a palavra “diálogo” a mais importante do seu segundo mandato, decidiu pautar a imprensa contra um governo de oposição, atribuindo a sua derrota no Estado, vejam vocês, às deficiências do jornalismo.

Vale dizer: Dilma acha que fez tudo certo; que os que não votaram nela só estavam mal informados e que o papel da boa imprensa é atacar seus adversários. Mais: para a represidenta, ela venceu no Nordeste em razão dos méritos do seu governo, e a oposição deu uma lavada em São Paulo em razão dos deméritos do que os petistas chamam “mídia”. Ou por outra: a sua reeleição é prova de sabedoria do povo do Nordeste; já as vitórias estrondosas de Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves em São Paulo provam a ignorância do povo paulista.

Digamos, o que é escandalosamente falso, que a imprensa realmente tivesse omitido informações sobre a crise hídrica. Será que os paulistas não teriam percebido ao abrir a torneira? O PT perdeu, em São Paulo, três turnos da eleição insistindo nessa tecla: o primeiro e único para o governo do Estado e os dois outros para a Presidência. Dilma está querendo disputar o quarto turno.

Eis a presidente que afirma querer o diálogo. Fica evidente: a exemplo de seu partido, ela também não esquece nada nem aprende nada.

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