Dinastia Assad já atormenta nove presidentes americanos
Assim como a dinastia Castro, a dinastia Assad tem exasperado presidentes americanos, um atrás do outro. Com Donald Trump, são nove na conta de Robin Wright, a veterana jornalista que conhece a política externa americana e o Oriente Médio de trás para frente.
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Em um texto na revista The New Yorker, Robin Wright desenha o arco histórico. O secretário de Estado Henry Kissinger teve o primeiro encontro com Hafez Assad (o papai do Bashar) em 1973, um encontro interminável em Damasco. A especulação entre jornalistas era a de que Kissinger fora sequestrado.
Nas memórias, doctor K escreveu como era ingrato arrancar concessões do tirano. Nas suas memórias, outro secretário de Estado, James Baker, escreveu que negociar com Hafez Assad era a “diplomacia da bexiga”. Segurá-la era preciso, pois o papo não terminava e não conduzia a nada.
Republicanos e democratas se exasperaram com a dinastia, no poder desde o golpe de 1970, primeiro Hafez e depois seu herdeiro e segundo filho, Bashar. Kissinger chegou a realizar 14 viagens em um mês a Damasco para conseguir desengajar tropas sírias e israelenses ao longo das colinas de Golã depois da Guerra de 1973.
Jimmy Carter conseguiu o acordo de paz entre Egito e Israel, nas negociações envolvendo Anuar Sadat e Menachem Begin. Nada com Hafez Assad. Em 1981, havia um plano de paz saudita e uma reunião de cúpula arabe no Marrocos. Apareceram 21 delegações, mas o ditador sírio não deu as caras. Foi o colapso da cúpula.
Havia muita hostilidade entre Hafez Assad e Ronald Reagan. O secretário de Estado George Schultz negociava um tratado de paz entre Israel e Libano, após a invasão israelense de 1982. Os sírios torpedearam o acordo e incentivaram a criação do Hezbollah, a milícia terrorista xiita que hoje é sustentáculo de Damasco.
Numa rara confluência de interesses, Hafez Assad apoiou a coalizão liderada pelos americanos na primeira guerra do golfo Pérsico contra Saddam Hussein. Os dois tiranos não se bicavam. No entanto, após a guerra, ele não deu as caras nas negociações de Madri em busca de um ambicioso acordo de paz no Oriente Médio.
Com o fim da União Soviética e a perda do seu mais importante aliado, Hafez Assad se enfraqueceu. Mesmo assim, entre 1993 e 1996, os americanos não conseguiram sucesso na mediação de um acordo de paz entre Israel e Síria.
Bill Clinton até arriscou uma ida a Damasco, como Nixon fizera em 1974. Hafez Assad passou um sermão no jovem presidente americano e exigiu a completa devolução das colinas de Golã como condição para a paz com Israel.
O nosso mais familiar Bashar assumiu o poder em 2000 com a morte do pai. George W. Bush viu oportunidades diplomáticas no jovem presidente que acenava com reformas. No entanto, após a invasão americana do Iraque em 2003, ele permitiu que milhares de jihadistas estrangeiros cruzassem a Siria rumo ao Iraque para combater as tropas americanas.
Ainda em 2007, Bush disse numa entrevista à imprensa: “Minha paciência com Assad se esgotou há muito tempo”. Mesmo assim, o presidente seguinte, Barack Obama, achou que havia oportunidades diplomáticas em Damasco.
Obama reverteu o curso depois que Assad matou milhares de manifestantes pacíficos na versão síria da Primavera Árabe. Obama calculou que os dias de Assad estavam contados. Errou na conta e na demarcação da linha vermelha que o tirano de Damasco não poderia cruzar com o uso de armas químicas.
Como seus oito predecessores, Donald Trump assumiu o cargo disposto a considerar um papel positivo para Assad, embora ele tenha matado e prejudicado a vida de mais sírios do que o seu pai em bem menos tempo. E em “menos de 100 dias, Trump descobriu que Bashar Assad também é brutal e exasperante.
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