Donald Trump conseguirá fazer história?

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 19/01/2017 08h10
EFE Donald Trump - EFE

Donald Trump vem aí, na sexta-feira. Mas, hoje vamos para trás, examinar a história. Em um longo ensaio no Wall Street Journal, o historiador conservador John Steele Gordon não dá colher de chá para Barack Obama e sequer para Ronald Reagan, o monstro sagrado dos republicanos. Para Gordon, poucas eleições deixam a marca de uma mudança permanente nos EUA. A última vez foi em 1932. Antes isso ocorrera em 1828, 1860 e 1896. Com sua vitória em 2016, Trump prenuncia uma nova ordem política.

Com a presidência negada em 1824, pelo o que ele qualificou de “barganha corrupta” na Câmara dos Deputados, o interiorano Andrew Jackson, do estado do Tennessee, foi à carga e venceu por lavada quatro anos mais tarde, o primeiro presidente americano que não pertencia às elites fundadoras da nação (antes dele, todos os presidentes eram dos estados da Virgínia e Massachussetts).

Jackson nascera pobre e foi também o primeiro presidente que subiu na vida por seu próprio esforço. Criador do moderno Partido Democrata, sua era política ficou conhecida como “democracia jacksoniana”, com a maioria dos estados repelindo requerimentos de propriedade para o voto, o primeiro passo para o sufrágio universal.

A nova grande mudança foi Abraham Lincoln, quando escravidão se tornou o tema dominante em meados do século 19. E o Partido Republicano, fundado em 1854 expressamente como um partido anti-escravidão, cresceu rapidamente.

As eleições que tiveram lugar nas décadas posteriores à Guerra Civili em geral foram acirradas e somente a vitória de William McKinley em 1896 consolidou uma nova era de domínio republicano, com a plataforma de prosperidade, disciplina fiscal e segurança nacional.

Os democratas recuperaram o domínio político graças à Grande Depressão e aos talentos políticos de Franklin Roosevelt. Em 1928, o republicano Herbert Hoover venceu em 40 dos então 48 estados e seu partido obteve folgada maioria no Congresso. Em 1932, foi a reversão. Roosevelt levou 42 estados e o Congresso se tornou largamente democrata, permitindo a aprovação da expansão do governo federal e dos seus programas sociais.

Entre 1932 e 1980, os republicanos controlaram as duas Casas do Congresso por apenas quatro anos. Os excessos liberais abriram espaço para a ascensão de Ronald Reagan em 1980, mas ele sempre foi contido por uma sólida Câmara dos Deputados democrata, o motivo pelo qual o ensaísta John Steele Gordon não o considera tão transformador como os predecessores citados. Reagan obviamente deixou sua marca e um inesperado herdeiro foi o democrata centrista Bill Clinton, admitindo que acabara a era do grande governo.

A crise financeira de 2008 e a falta de disciplina fiscal dos republicanos no poder abriram o caminho para Barack Obama. Ele iniciou o mandato com sólida maioria no Congresso, mas sua agenda foi um desastre político, em particular o Obamacare. O resultado foi uma onda republicana, não apenas em Washington, mas nos governos estaduais.

Agora chega Trump. Será uma mudança nos moldes de Jackson, Lincoln, McKinley e Franklin Roosevelt? Para John Steele Gordon, embora não tenha recebido a pluralidade dos votos, Trump capitaliza o desgaste democrata, que alienou parcela de sua base de trabalhadores brancos.

O trunfo com potencial revolucionário de Trump, no argumento de John Steele Gordon, é não ter dívidas com o establishment, ao estilo de Andrew Jackson, além da capacidade de se comunicar diretamente com a opinião pública sem o filtro da imprensa.

A consolidação de uma nova ordem política trumpiana vai depender da capacidade do novo presidente de estimular ou ser associado a crescimento mais rápido e elevação da renda, conforme prometeu na campanha.

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