Donald Trump da Arábia: o novo relacionamento entre EUA e islâmicos

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 22/05/2017 07h39
Trump está disposto a negociar nova lei de saúde EFE/Michael Reynolds Presidente dos EUA Donald Trump em reunião sobre sanidade na sala Roosevelt da Casa Branca

Como Barack Obama no seu primeiro discurso presidencial em terras islâmicas, no Cairo em 2009, Donald Trump, em Riad, Arábia Saudita, no domingo, prometeu um novo começo no relacionamento dos Estados Unidos com o mundo islâmico.

Como se esperava de Trump, ele foi mais incisivo do que Obama para exortar o mundo islâmico a combater o extremismo e o terror. No entanto, ele foi bem menos incendiário do que na sua campanha eleitoral, quando manchava a linha entre terror e a religião islâmica e despejava uma retórica islamafóbica.

No discurso, estiveram ausentes expressões como terrorismo islâmico radical. Ao contrário de Obama, que falou para uma audiência cívica na Universidade do Cairo, o público de Trump no domingo eram autocratas. Nada de fustigadas protocolares sobre a necessidade de respeito aos direitos humanos.

Houve o recado claro de que o papel dos EUA não é exportar valores ou ensinar como outras sociedades devem viver. Os autocratas podem contar com Trump caso enfrentem revoltas populares ao estilo Primavera Árabe. Não serão abandonados como Obama fez com o ditador egípcio Hosni Mubarak em 2011. Hoje, Trump é amigão do peito do ditador Sisi

O apelo por mudança de regime ficou limitado ao Irã xiita, para a alegria dos autocratas sunitas reunidos em Riad sob a batuta do rei Salman, que ofereceu uma acolhida nababesca e cheia de adulação a Trump, além de negócios na faixa de centenas de bilhões de dólares, num recado muito claro de que e elite da região está muito satisfeita com a mudança de guarda em Washington.

Está arquivada a doutrina Obama de buscar um equilíbrio entre os blocos do Oriente Médio, o sunita comandado pelos sauditas, e o xiita pelo Irã. Ironicamente, enquanto Trump tomava partido acintoso dos autocratas sunitas, o presidente iraniano Hassan Rouhani acabava de ser reeleito, com sua mensagem mais moderada e pragmática.

Segue de pé a pergunta essencial: como combater efetivamente o extremismo islâmico que é alimentado por autocracias, algumas sustentadas pelo ideário do fundamentalismo religioso, como a saudita, quando o governo Trump as abençoa abertamente?

Agora é a escala israelense de Trump. Semanas atrás havia mais euforia em Israel com a perspectiva do novo governo em Washington. Obviamente não há saudades de Obama, mas ansiedade com um presidente imprevisível, que desconhece as complexidades dos problemas da região e que não se mostra disposto a dar apoio incondicional a Israel, inclusive pedindo menor ardor na expansão de assentamentos na Cisjordânia.

Mais do que isto, o novo melhor amigo externo de Trump parece ser o rei saudita Salman, disposto a um modus vivendo com Israel para combater o Irã,  mas que tem seus próprios parâmetros para resolver a crise palestina, com um plano de paz, cuja pedra de toque são fronteiras nas linhas do mapa anterior à guerra de 1967.

Trump caminha no terreno minado do Oriente Médio achando, que tudo será facilmente resolvido, mas o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu também caso atravesse o caminho do impertinente presidente americano.

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