Donald Trump e os ecos de Watergate

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 11/05/2017 08h45
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Montagem - Divulgação/EFE Richard Nixon e Donald Trump - DIV e EFE

Eu não preciso dar lições a brasileiros sobre encruzilhadas políticas e os escroques canarinhos. Então vamos aos dilemas aqui ao norte.

Estamos simplesmente em uma encruzilhada excruciante desde o chamado massacre de terça-feira à noite, quando o presidente Trump demitiu James Comey, o diretor do FBI que investigava as possíveis conexões de sua campanha eleitoral com os russos. A marquetagem da Casa Branca nega qualquer vinculo com os russos, como Richard Nixon negou que fosse um escroque.

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Sim, qualquer referência hoje sobre Trump exige o fantasma de Nixon, os ecos de Watergate. Num sábado à noite de outubro de 1973, o ex-presidente ordenou a demissão do promotor especial que investigava Watergate. Seu ministro da Justiça e o sub dele se recusaram a acatar a ordem. O promotor acabou demitido, mas no ano seguinte Nixon foi massacrado. Renunciou antes de ser fulminado pelo impeachment.

Watergate foi uma lição de como as instituições funcionaram. Abuso de poder é coisa de ditadura ou de república de banana. No entanto, Donald Trump ameaça conduzir os EUA para a encruzilhada com seu descaso institucional, vaidade infanto-juvenil, conflito de interesses e mero amadorismo de aprendiz.

O ex-dono de cassinos faz uma aposta irresponsável e perigosa com esta demissão do diretor do FBI, que pode encurtar sua permanência na Casa Branca. Trump acredita que, apesar de alguns muxoxos, os republicanos vão engolir mais esta. Afinal, engoliram o próprio Trump. Sem dúvida, o Partido Republicano hoje carece de espinha dorsal, algo distinto dos idos da década de 70, de Watergate.

Mas a realidade política pode ser implacável e a onda de desconforto com a decisão de Trump pode se transformar em um tsunami de indignação. Muito do cálculo republicano vai envolver cinismo. Por ora, Trump é um instrumento para a concretização de uma agenda conservadora no Congresso, onde os republicanos têm maioria.

No entanto, o desencanto da maioria da população com esta agenda, a destacar a legislação que rechaça e substitui o Obamacare, o plano de saúde que foi pedra de toque do governo anterior, poderá ter um impacto histórico nas eleições no Congresso em 2018. Existe o potencial para a chamada “onda”, como a surfada pelos democratas em 2006 ou pelos republicanos em 2010.

O processo de impeachment de Nixon começou na Câmara dos Deputados controlada pelos democratas quatro meses depois da demissão do promotor especial de Watergate. Com o colapso do apoio republicano no Senado seis meses mais tarde, Nixon renunciou, o único presidente americano a fazer isso…até agora.

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