Donald Trump é um coquetel molotov
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Um funcionário de carreira, como um diplomata, serve o seu país, goste ou não goste do seu presidente ou da política externa que ele implementa. Em uma ditadura, não há muito papo. Obedece ou obedece. Sabemos qual é a terceira opção. Mas e em uma democracia? E em democracia que tem Donald Trump como presidente?
Está aí a capa corrente da revista The Economist. O homem é um coquetel molotov. Arremessa seus impropérios, dispara tuítes, bate o telefone na cara de dirigentes de países muito aliados dos EUA, como a Austrália, e sua perigosa política externa é uma mistura de caos, improvisação e bravatas. Os EUA de Trump não são para amadores.
E o que fazem os profissionais? Trump é o insurgente, mas também existe uma insurgência sem precedentes contra ele em vários departamentos governamentais. Esta semana, a ministra da Justiça interina (resquício do governo Obama) se amotinou contra a ordem executiva, alvejando imigrantes e refugiados. Foi demitida.
O regime Trump vira ao avesso a diplomacia americana e insulta os profissionais do ramo. No Departamento de Estados, os funcionários têm um instrumento para canalizar a dissidência sem supostamente sofrer retaliações. Mais de mil funcionários assinaram um documento, divergindo da ordem executiva sobre imigrantes e refugiados. Algo histórico. O recorde anterior eram 5o assinaturas.
Este canal de dissidência foi estabelecido na época da Guerra do Vietnã. Há anos em que não é usado Em outros, é usado pesadamente, com em conflitos controvertidos, Vietnã, Balcãs, Iraque e Síria.
John Brady Kiesling trabalhou por duas décadas no Departamento de Estado e recebeu um prêmio por dissidência construtiva da American Foreign Service Association quando defendeu a intervenção humanitária dos EUA na Bósnia nos anos 90. Ele pediu demissão quando houve a invasão do Iraque em 2003, dizendo que promover a então política externa do país violava sua consciência.
Em entrevista à NPR, a rádio pública americana, Kiesling diz que Trump desafia o profissionalismo do Departamento de Estado, desrespeitando um sistema, que pode ser imperfeito, mas é comprometido com a proteção do país.
Sem medir palavras, ele diz que Trump e seus assessores são “basicamente um bando de idiotas, sem noção de como o mundo funciona” e decidiram dar um chega-para-lá a quem dedicou uma vida a proteger os EUA.
Trump foi eleito e tem um mandato, mas o ex-diplomata Kiesling alerta que o “presidente fez uma promessa para dar segurança ao povo americano. Ele precisas entender quais são os motivos e mecanismos que geram terrorismo”.
São desafios estudados pelo Departamento de Estado, CIA e Pentágono desde os anos 60. As instituções aprenderam alguma coisa no processo. Assim, antes de dar botinadas no sistema, ele deveria aprender porque o sistema faz o que faz.
Parece muito tarde.
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