Donald Trump: nem subestimar nem superestimar

Eu, como tanta gente, já subestimei Donald Trump, tratando-o como um sabor de sorvete que iria derreter no calor de uma campanha eleitoral.
Mas existe o erro reverso: superestimar o candidato republicano. Eu até calculei que o atentado terrorista em Orlando iria render alguns pontinhos para Trump, o bombástico que promete arrebentar e talvez prender.
Mas as indicações são de que o homem que promete construir um muro na fronteira com o México bateu num muro político. Sua campanha está balançando em meio à queda nas pesquisas, à teimosia para disparar comentários racistas e conspiratórios e ao coro mais barulhento de insatisfação dentro do seu próprio Partido Republicano.
Após triunfar sobre 16 candidatos na corrida das primárias, Trump esboçou sinais de que iria se esforçar para unificar o partido. Mas Trump é Trump, o rei-sol em torno do qual todos devem orbitar. Na frase familiar, ele é incapaz de se converter em uma figura presidenciável. Comporta-se como um bully, movido a insultos e a intimidação.
Não é à toa que cresce a aflição entre líderes republicanos. Eles temem que o partido afunde com Trump. Caso cerrem fileiras com ele, de fato, serão cúmplices no desastre eleitoral. Caso conspirem para impedir que ele seja o candidato, o partido também implode, pois Trump venceu as primárias e tem apoio de boa parte da base.
O problema é que o eleitorado como um todo é mais diversificado e não engole as barbaridades de Trump. Em contrapartida, a blitz democrata, chefiada pelo próprio presidente Obama, surte efeito. A candidata Hillary Clinton parece ter encontrado o tom calibrado para fulminar Trump, disparando sem cessar que ele não tem qualificação e temperamento para presidir o país.
E isto ficou patente nesta semana horrorosa marcada pelo atentado em Orlando. A primeira reação de Trump foi uma bravata narcisista do bem-que-eu-avisei que isto aconteceria. E para piorar tudo, ele fez insinuações de que Obama é simpático ao terror islâmico.
É verdade que o eleitorado como um todo não morre de amores por Hillary Clinton, sobre a qual existe uma névoa de suspeitas. Pesquisas confirmam que os americanos não confiam nela. Mas o consolo é o de sempre. Confiam menos em Trump e gostam ainda menos dele. O muro de proteção de Hilllary é Donald Trump.
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