A dose moderada do Cuba Libre de Trump
Eu entro com atraso no assunto Cuba, pois a mera conversa sobre a ilha castrista é um atraso. Muita onda está sendo feita sobre a decisão do presidente Trump anunciada na sexta-feira de reverter a política de normalização de relações entre EUA e Cuba, que foi empreendida pelo antecessor Barack Obama.
Muita onda feita que Trump mostrou ser um político que cumpre a palavra. Ele, na verdade, é seletivo: cumpre algumas promessas de campanhas, outras não e no caso cubano é tudo meio a meio.
No Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca foram apresentadas propostas de “tudo ou nada”. No final das contas, foram adotadas algumas restrições de viagens e comércio, mas nada radical.
Não foram cortadas as relações diplomáticas nem reabertas as porteiras para refugiados cubanos, no que era conhecido como “pé molhado, pé seco”, ou seja, quem pisava em solo dos EUA tinha direito à residência permanente, uma regalia invejável e relíquia da Guerra Fria. O medo óbvio seria gerar um turbulento fluxo migratório e Trump tem pavor da mera palavra imigração.
As proposta radicais foram apresentadas, mas para Trump o importante era este marketing de parecer que cumpria a promessa de campanha, agradar um segmento da base eleitoral na Flórida e garantir apoio de alguns congressistas desta base, a destacar o senador Marco Rubio, que na campanha das primárias republicanas foi alcunhado por Trump como “little Marco”, Marquinho.
O próprio memorando do Conselho de Segurança Nacional, vazado para a imprensa no fim de semana, reconhece que um rompimento radical com a política de Obama seria um erro estratégico.
Um congelamento destas relações dos EUA com Cuba abriria mais espaço na ilha castrista para Rússia e China, removendo capital político de Washington para extrair reformas no país, além de prejudicar empresas americanas e as relações com o resto da América Latina.
A decisão sobre Cuba na sexta-feira ofuscou duas adotadas no dia anterior. Trump reverteu uma promessa de campana e manteve outra. Por ora, fica preservado o programa do governo Obama de não deportar os chamados “dreamers”, sonhadores, os imigrantes ilegais que chegaram crianças aos EUA. E, ao mesmo tempo, foi oficialmente revogado o programa que protegia de deportação alguns dos país dos chamados sonhadores.
A base eleitoral de Trump tem motivos de satisfação e frustração com decisões em imigração do presidente, em meio aos primeiros sinais de decepção mais incisiva no seu núcleo duro, eleitores brancos de menor nível educacional.
Assista também ao comentário ao vivo de Caio Blinder nesta manhã:
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