Drama sírio não comove americanos e emerge apenas como retórica no debate
Está duro convencer os americanos a se comoverem com as aflições na guerra civil síria, especialmente na arrasada cidade de Aleppo, dividida entre rebeldes e forças governamentais. Os bombardeios dos aviões do regime Assad e do seu patrono Vladimir Putin são implacáveis, brutais, cruéis sem diferenciar alvos militares de civis.
Esta semana vi um cartoon bem ilustrativo. Em uma casa destruída em Aleppo, uma mulher com o bebê no colo pergunta ao marido: estão falando da gente na campanha eleitoral americana? Desolado, o marido responde que o papo é mais sobre uma Miss Universo que ficou gorda, em alusão aos furiosos tuítes disparados dias atrás por Donald Trump contra esta miss, que agora faz campanha por Hillary Clinton.
Sim, Aleppo deveria estar no universo eleitoral, mas a guerra civili síria serve basicamente de munição retórica para os candidatos. Trump bate na tecla que Obama é um desastre no Oriente Médio e Hillary insiste na misteriosa e problemática adoração que o candidato republicano nutre por Putin, o padrinho de Assad. No final das contas, ambos os lados têm razão
E foi bizarro e malandro o papel do Mike Pence, o companheiro de chapa de Trump, no debate dos vices na segunda-feira à noite. Ele foi duro com Putin e falou em uma ação vigorosa dos Estados Unidos na Síria. Pence parecia integrar a campanha de um outro candidato, não a de Trump.
Sem duvida que Obama é uma barata tonta na Síria. Nunca quis mergulhar naquela lodaçal e encenou interesse em uma diplomacia que não tem para onde ir. Basta ver que, nesta semana, Washington suspendeu as negociações com Moscou sobre a Síria.
A rigor, Putin é um vencedor no duelo eleitoral americano, pois ele expôe as fraquezas dos democratas e a aterradora falta de preparo de Trump para presidir a única superpotência do planeta. Putin aproveita os últimos meses do governo Obama para fortalecer a posição de Assad na guerra civil síria, na aposta razoável de que o presidente nada fará de espetacular neste final de mandato. Putin assim diminui a margem de manobra do futuro presidente. Eu acredito que será Hillary, que acena com uma postura mais vigorosa do que a de Obama no fronte externo, mas difícil ver como ela poderá mudar o jogo de forma dramática na Síria.
Tudo dramático na Síria, mas duro, praticamente impossível comover os americanos sobre tragédias como a de Aleppo.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.