Duas chapas devem disputar hoje comissão especial do impeachment. “Pode isso, Arnaldo?” Está nas regras!

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 08/12/2015 10h08
RJ 5º - Leonardo Picciani (PMDB) Sérgio Lima/Folhapress RJ 5º - Leonardo Picciani (PMDB)

O governo tentou transformar a comissão especial que vai analisar a denúncia contra a presidente Dilma Rousseff numa, como posso chamar?, tropa de choque sem nenhuma sutileza. Quando se nomeiam Sibá Machado (PT-AC), líder do partido na Câmara, e José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Casa, para analisar o assunto, é claro que se está querendo confusão, não esclarecimento.

É evidente que eu espero que petistas integrem uma comissão como essa para defender Dilma e o governo. Ocorre que esses senhores estão entre aqueles que consideram a aceitação da denúncia um “golpe”. Assim, o seu propósito não é ir lá defender um ponto de vista, mas sabotar qualquer trabalho sério.

Mas vá lá. O PT indique quem quiser, inclusive os seu piores — se é que, hoje em dia, poderia fazer o contrário. Ocorre que o PMDB esta dividido, não? Leonardo Picciani (RJ), o ex-aliado de Eduardo Cunha, que se voltou contra o seu criador com uma sem-cerimônia assombrosa, decidiu escalar para a tal comissão — que, em princípio, seria única — apenas deputados contrários à denúncia. Ou por outra: não seria o PMDB a estar representado na comissão, mas os sabujos do governo.

Aí a outra ala do partido, a contrária a Dilma, se rebelou. E, em companhia da oposição decidiu lançar uma chapa alternativa. Como indagaria Galvão Bueno: “Pode isso, Arnaldo!”. Ao que Arnaldo responderia: “Está nas regras”. Mas Sibá Machado, aquele, não se conforma. E prometeu “guerra”. O que isso quer dizer? Não tenho a menor ideia.

A composição da chapa, que terá 65 membros e deve obedecer à proporcionalidade das bancadas, estava prevista para ontem, mas ficou para esta terça. Ou melhor: o processo pode começar nesta terça.

Cada uma das chapas, para se inscrever, tem de ter pelo menos 33 membros — metade mais um do total. O plenário vai escolher uma ou outra. Se a chapa vencedora não estiver completa, os outros membros têm de ser escolhidos também por votação.

O governo, claro!, gostaria de fazer tudo a toque de caixa — e, curiosamente, isso é considerado normal pela imprensa. A oposição e os setores rebelados da base preferem o vagar, mas de acordo com as regras. E, ora vejam, isso é chamado de manobra. O governo quer suspender o recesso parlamentar para debater e votar a denúncia contra Dilma o mais rapidamente possível, sem povo na rua. E isso também é visto como normal por aqueles setores da imprensa. Os que se opõem a Dilma preferem seguir o calendário que já está definido. E, para espanto da lógica, seguir a regra é que é chamado, mais uma vez, de “manobra”.

Não sei se esses setores a que me refiro perderam o critério ou a vergonha.

Na última hora, o governo lançou uma teoria conspiratória, que está sendo vendida ao distinto público: o adiamento buscaria apenas inviabilizar mais uma vez a continuidade da votação do relatório contra Cunha no Conselho de Ética.

Ora, tenham a santa paciência! Ainda que inviabilize, estamos falando de um dia. Que seja uma semana, é daí? Por causa disso, vai se transformar a comissão que vai analisar a denúncia em mera pantomima homologatória, para as evoluções, como direi?, circenses do senhor Sibá Machado?

Desde que escrevo sobre política — e olhem que faz tempo! —, nunca havia visto a imprensa cobrar, ainda que nas entrelinhas, que os opositores do governo o ajudem com seus votos.

Esses setores de que trato também querem que tudo se resolva bem depressa, antes de chegar ao povo. Eles descobriram que o povo atrapalha quando não vota de acordo com a sua opinião e com seus preconceitos ideológicos.

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