Economia ainda no chão, o paradoxo do asno de Buridan e aquele que fala com Deus

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 22/11/2016 09h25
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Brasília - Presidente Michel Temer durante reunião do CDES - Conselho de Desenvolvimento Econômico Social. ( Beto Barata/PR) Beto Barata/PR Presidente Michel Temer durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social

O governo Michel Temer, embora ainda muito curto, tem uma qualidade — e o próprio presidente tocou nesse assunto na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social — que é não dourar a pílula da economia, evitando o ilusionismo, uma constante da era Mantega-Dilma. Em 2014, o então ministro da Fazenda previu, lá por fevereiro ou março, um crescimento de 3,5%. Foi de 0,1%. Aí ele deixou os 3% de expansão para 2015. Houve uma recessão de 3,8%… E assim era com tudo, no exercício descarado não só da contabilidade criativa, que levou Dilma ao impeachment, mas também das estimativas criativas.

Agora, ao menos, busca-se encarar o bicho de frente. Houve alguns soluços de recuperação da economia, mas tiveram fôlego curto, curtíssimo. A economia, diz o governo, vai encolher mais do que esperado neste 2016: não mais 3%, mas 3,5%. Para o ano que vem, quando se esperava já um pouco de descanso na loucura, a expectativa de crescimento cai de 1,6% para apenas 1%. Sim, é melhor não tentar enganar ninguém.

E que se note: economistas põem algumas variáveis no papel, mas não têm como adivinhar a história. Um encaminhamento bem-sucedido das reformas — que certamente vão ser concluídas lá por 2018 — pode gerar expectativas positivas? Pode, sim! Mas milagre não haverá, como se sabe, e o crescimento não responde a um estalar de dedos.

Vive-se uma espécie de paradoxo do asno de Buridan. O que vem a ser? Baseado no princípio de que os seres buscam sempre aquilo que é melhor parar eles, um asno que estivesse a igual distância da água e da alfafa correria o risco de morrer de fome e de sede, incapaz de decidir entre um outro. A economia precisa crescer para que as tensões sociais diminuam, mas, para que cresça, é preciso que se tomem medidas que, num primeiro momento, tendem a aumentar o número de descontentes, que já é grande por causa da recessão. Dilma, como se sabe, sucumbiu. Como o asno hipotético.

O governo está decidido a fazer as reformas. Temer promete enviar a proposta da Previdência ainda neste ano. Será preciso apoio político maciço para que a coisa prospere. Ao mesmo tempo, o Congresso vive tempos pré-apocalípticos, com receio do que venha das delações premiadas. O próprio Sergio Moro já teria dito certa feita que não sabe se o país resiste.

“Está sugerindo que a Lava Jato prejudica o crescimento?” Eu nunca fui de sugerir nada. Quando acho, digo. Estou afirmando que o ambiente político está com um olho no que tem de ser feito e com o outro na guilhotina. Ou vocês acham que, dado o ambiente, há políticos com disposição entusiasmada para cortar benefícios previdenciários, por exemplo?

O Congresso brasileiro terá de tomar aquelas que podem ser as decisões mais duras de sua história no momento em que a sua credibilidade vive seus piores dias. Se alguém acha que o debate das reformas vai se dar nesse ambiente relativamente calmo que se respira hoje, pode tirar o cavalo da chuva.

O cenário objetivo, meus caros, é este: economia no fundo do poço, desemprego alto, reformas como imposição da realidade (não com escolha), com boa parte do Congresso na fila da guilhotina…

A chance de aparecer alguém que diga falar com diretamente com Deus é enorme…

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