Em 1989, a queda do Muro; em 2016, a ascensão de quem quer construir muros
Donald Trump - EFE
Não é a primeira vez que eu tenho uma boa ideia e ela está na revista The Economist. Para não parecer plágio, sou obrigado a citá-la. O mundo assistiu fascinado às cenas em 9 de novembro de 1989, da queda do muro de Berlim. Veio a frase famosa do fim da história. Acabara a luta entre capitalismo e comunismo. No entanto, a história sempre é mais complicada e convoluta. As lutas continuam.
E assim, em um outro 9 de novembro, na terça-feira passada veio a confirmação épica. Após uma titânica batalha, Donald Trump era o presidente eleito dos Estados Unidos. Os paralelos terminam aqui. Em 1989, a queda de um muro. Agora, a ascensão de um homem que quer construir muros.
Sabemos que este construtor é um demolidor, capaz de provocar rachaduras no conceito de livre mercado e democracial liberal. Por ora, não sentimos a passagem do trator. Tudo suave nesta semana de choque, de choque eleitoral, no início da transição de poder, como no encontro entre Barack Obama e o presidente eleito na quinta-feira na Casa Branca. No entanto, sabemos que Trump é um rompedor de normas, tanto eleitorais como na própria postura cívica.
Difícil esperar um Trumpinho, paz e amor. Está aí uma pessoa que se comporta mais como um homem-forte do que como um mero ator hegemônico na ordem democrática. De várias maneiras, Trump está demolindo o consenso erguido especialmente na ala madura do mundo ocidental, um consenso arquitetado no pós-guerra a favor da globalização e de alianças militares.
Trump quer erguer muros de proteção comercial e contra imigrantes, ele quer uma retração do papel global dos Estados Unidos. Temo ainda mais pela instabilidade mundial se o país hegemônico se retrair de sua responsabiiidade.
Não vou chover no molhado. Apenas relembrar que na campanha, Trump soube canalizar com talento demagógico a fúria de metade dos americanos contra o que está aí, contra o status quo. Agora no poder, quem sabe ele se comporte de forma mais magnânima e pragmática.
Obama, por obrigação institucional, disse ontem que precisa torcer pelo sucesso de Trump, pois isto significará o sucesso dos EUA. No entanto, sem esta obrigação, a Economist admite estar “profundamente cética” se Trump será um bom presidente. Existe um muro no meio do caminho: suas propostas perigosas, temperamento e complexas exigências do cargo.
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