Em honra aos heróis de capacetes brancos, hoje falo da Síria

  • Por Caio Blinder
  • 16/09/2016 10h09
EFE Voluntários Síria - Capacetes brancos

 Vou deixar de lado por uns momentos o chororô do Lula, o blá blá blá do Trump e o nhem nhem nhem da Hillary para falar de Síria. De Síria? O que existe de novo ou de promissor para falar desta guerra civil que já ceifou 500 mil pessoas?

Sim, é verdade que existe mais um cessar-fogo em vigor. No máximo, poderá servir de respiro para uma população aflita. Nada de perspectivas de solução a longo prazo num conflito multidimensional envolvendo a ditadura Assad, variações de grupos rebeldes e um batalhão de países com agendas distintas.

De promissor na Síria existe basicamente a tarefa de impedir que tudo piore ainda mais e o esforço para mitigar a crise humanitária. Estão aí os capacetes brancos. São os voluntários que correm para as cenas dos bombardeios aéreos (lançados pelos aviões de Bashar Assad ou do seu patrono russo Vadimir Putin) em cidades como Aleppo para resgatar as vítimas. Por alguns cálculos, eles já salvaram 60 mil pessoas dos escombros.

A missão nada quixotesca dos capacetes brancos motivou o documentário que o Netflix exibe, a partir desta sexta-feira, 16, e recrutou um bando de celebridades no lobby para que o grupo receba o Prêmio Nobel da Paz de 2016 agora em outubro. Sei que este negócio de cause célèbre costuma ser hobby de gente famosa ou jogada de relações públicas. E daí? Gosto da Angelina Jolie. E daí?

Na petição pelo Nobel aos capacetes brancos estão suspeitos habituais como George Clooney e Ben Affleck. E daí? Tudo o que torne a causa mais célebre é um ganho. A tragédia dos civis em cidades como Aleppo é ofuscada pelo debate no Ocidente sobre refugiados, que tantas vezes são jogados na vala comum da ameaça terrorista e islamofobia.

Eu, pessoalmente, errei muito nas análises sobre a Síria, enganado pela complexidade do conflito, os descaminhos dos rebeldes (hoje o comando está com jihadistas da pesada), as cenas atrozes geradas pelo Estado Islâmico e a capacidade de barbárie acima das expectativas do resiliente regime de Assad.

Meu consolo será se comover com este documentário e torcer pelo Nobel da Paz para os capacetes brancos, os desmarmados soldados humanitários.

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