Em novo depoimento, Youssef quer desvelar a real natureza do jogo

  • Por Jovem Pan
  • 26/02/2015 09h58
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Sérgio Lima/Folhapress Doleiro Alberto Yousseff sofre infarto em Curitiba

Reinaldo, por que o doleiro Alberto Youssef pediu para fazer um novo depoimento?

Vou Explicar. Alberto Youssef pode atrapalhar uma pizza bastante sofisticada que alguns estão tentando assar na Operação Lava-Jato. Ele pode agir assim por precisão, não por boniteza, como o sapo do Guimarães Rosa, mas isso não tem a menor importância. O que interessa é que se revele, já escrevi aqui tantas vezes, a natureza do jogo. Por que isso?

Youssef entrou com um pedido na Justiça para prestar um novo depoimento. Ele quer ser ouvido outra vez pelo juiz Sérgio Moro em um dos processos de que é réu, acusado de ter participado de uma organização criminosa para tirar do país R$ 444,6 milhões. A ação aguardava a homologação da delação premiada.

Aquele que é considerado peça central nas investigações da Lava-Jato deverá deixar claro — desta feita, mais do que nunca — que atuou a serviço de uma engrenagem, de uma organização de poder. Youssef pretende demonstrar como esse esquema não dependia nem mesmo de pessoas; se uma saísse, outra poderia entrar no lugar sem mudar a, escrevo de novo a expressão, “natureza do jogo”.

Youssef julga ter conhecimento e experiência o bastante para afirmar que as três últimas eleições presidenciais foram marcadas por um forte desequilíbrio econômico em razão do poder que essa “máquina” exercia. Tudo indica que o braço político do escândalo do mensalão não vai gostar do que ele tem a dizer.

Lembro aqui trechos de voto proferido pelo ministro Celso de Mell0 no julgamento do mensalão, na sessão do dia 1º de outubro de 2012. Leiam com atenção. Volto em seguida.

“Quero registrar, neste ponto, Senhor Presidente, tal como salientei em voto anteriormente proferido neste Egrégio Plenário, que o ato de corrupção constitui um gesto de perversão da ética do poder e da ordem jurídica, cuja observância se impõe a todos os cidadãos desta República que não tolera o poder que corrompe nem admite o poder que se deixa corromper. Quem transgride tais mandamentos, não importando a sua posição estamental, se patrícios ou plebeus, governantes ou governados, expõe-se à severidade das leis penais e, por tais atos, o corruptor e o corrupto devem ser punidos, exemplarmente, na forma da lei. Este processo criminal revela a face sombria daqueles que, no controle do aparelho de Estado, transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder, como se o exercício das instituições da República pudesse ser degradado a uma função de mera satisfação instrumental de interesses governamentais e de desígnios pessoais. (…) Esses vergonhosos atos de corrupção parlamentar, profundamente lesivos à dignidade do ofício legislativo e à respeitabilidade do Congresso Nacional, alimentados por transações obscuras idealizadas e implementadas em altas esferas governamentais, com o objetivo de fortalecer a base de apoio político e de sustentação legislativa no Parlamento brasileiro, devem ser condenados e punidos com o peso e o rigor das leis desta República, porque significam tentativa imoral e ilícita de manipular, criminosamente, à margem do sistema constitucional, o processo democrático, comprometendo-lhe a integridade, conspurcando-lhe a pureza e suprimindo-lhe os índices essenciais de legitimidade, que representam atributos necessários para justificar a prática honesta e o exercício regular do poder aos olhos dos cidadãos desta Nação. Esse quadro de anomalia, Senhor Presidente, revela as gravíssimas consequências que derivam dessa aliança profana, desse gesto infiel e indigno de agentes corruptores, públicos e privados, e de parlamentares corruptos, em comportamentos criminosos, devidamente comprovados, que só fazem desqualificar e desautorizar, perante as leis criminais do País, a atuação desses marginais do Poder.”

Retomo Alberto Youssef deve depor de novo. E se espera, com delação premiada, que apresente as evidências de que, mais uma vez, os “marginais” atuaram no “controle do aparelho de Estado, transformando a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder”.

É essa a natureza do jogo, sem que se deixem de considerar os demais crimes, cometidos pelos agentes não-políticos.

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