Em um único dia o retrato da deterioração do País
Apagão e pacote tributário deixam evidentes alguns dos problemas mais sérios decorrentes de toda a incompetência da gestão da economia nos últimos anos. O pior é que também deixam ainda mais negativas as perspectivas para 2015. Projeções só pioram.
O pacote tributário já era esperado, embora tenha vindo com alguns reforços, que não estavam na agenda, como o aumento do IOF sobre as operações de crédito. Tributos em alta são mais um fator de desestimulo ao consumo e de aperto financeiro para a população. Mas aí estão dois objetivos do governo: viabilizar a meta de um superávit de 1,2% do PIB nas contas públicas (os impostos devem gerar mais de R$ 20 bilhões) e enfraquecer a demanda, o que tende a frear os reajustes de preços.
Só que pra chegar a esse último efeito – o controle da inflação – antes haverá uma pressão adicional. A Cide vai elevar os preços dos combustíveis, dos fretes, pressionando os transportes, reforçando a inflação de várias formas. Aliás, a previsão de inflação próxima de 7% este ano já embute o efeito da Cide e do tarifaço, que é outra estratégia do governo para colcoar “a casa em ordem”. Chega de subsídios, de transferência de recursos, de controle de tarifas para tentar segurar a inflação. É o realismo tarifário que também vai bater no bolso do contribuinte/consumidor.
Estrangulamento das Finanças Pessoais
O que temos diante disso tudo é um estrangulamento das finanças pessoais, do orçamento das famílias. A lista de fatores que podem levar a isso é bem grande. Veja só: tarifaço, inflação mais alta, juros em alta pra evitar que a inflação avance ainda mais, impostos subindo para engordar os cofres públicos e desestimular o consumo; além da, consequente, desaceleração da atividade. Porque a conta não vai só para o consumidor. As empresas também encaram o aumento de custos, sofrem os efeitos da demanda mais fraca… O pior é que isso pode retornar para a população. Com a economia em desaceleração, e há risco até de retração, o desemprego deve aumentar.
Como se vê, o cerco está fechando. E um possível afrouxamento só deve vir quando a inflação for dominada e o governo tiver consolidado o ajuste fiscal. Isso se a presidente Dilma aguentar toda essa situação, que contraria o que sempre defendeu. Uma observação: o custo político vai pra presidente. Afinal, o desastre a ser administrado agora é decorrência de toda a incompetência na gestão da economia nos últimos anos.
Incompetência não se limitou ao desequilíbrio das finanças e ao “descontrole” da inflação
O corte parcial do fornecimento de energia, determinado pelo ONS, pra evitar uma apagão de maiores proporções, mostrou toda a fragilidade do sistema de energia, com as termelétricas operando no limite. Há risco de apagões, até de racionamento, se o governo reconhecer a gravidade do problema, fora o tarifaço que deve colaborar para alguma desaceleração do consumo. É mais um fator que limita o potencial de expansão da economia. A quarta energia mais cara do mundo e, talvez, insuficente. Insegurança e custo maior para o setor produtivo.
E é só um dos lados de toda a precariedade da infraestrutura do País e do Custo Brasil, que compromete demais a competitividade do produto brasileiro. Fica evidente que as empresas, assim como os cidadãos vão pagar uma conta pesada por tudo que o governo deixou de fazer ou fez de forma equivocada. E, por enquanto, nada de projetos que estimulem o setor produtivo, as obras de infraestrutura. É só aperto e custo maior, pra todo lado.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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