Entenda como Marina Silva voltou atrás em dois pontos do programa de governo
Reinaldo, Marina já exigiu duas correções do programa do PSB divulgado na sexta-feira. Como você vê a questão?
Vou dizer. Olá, internautas e amigos da Jovem Pan.
O PSB lançou o seu programa de governo na sexta-feira. Trazia duas, vamos dizer, “inovações” em relação, se assim se pode dizer, ao “Marinismo Clássico”: o apoio ao desenvolvimento da energia nuclear e ao casamento gay. No capítulo dos direitos da chamada comunidade GLBT, hoje uma espécie de fetiche da imprensa dita “progressista”, a candidata prometia ainda apoio ao PLC 122 ― a tal lei que criminaliza a homofobia.
O texto ia adiante e dizia que o governo Marina também se comprometia com o tal Projeto de Lei da Identidade de Gênero Brasileira, de autoria dos deputados Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Érika Kokay (PT-DF). A íntegra do texto, para os interessados, está na página da Jovem Pan.
Basicamente, o troço torna a identidade sexual de livre escolha, entenderam? Qual é o sexo do indivíduo para efeitos civis? Ele escolheria. Em que país do mundo é assim? Com essa largueza, em nenhum. Pô, se a gente tem jabuticaba e pororoca, por que não isso?
Muito bem. As coisas mudaram um pouco. Como lembrei no programa “Os Pingos nos Is”, aqui na Jovem Pan, na sexta à noite, Marina Silva era contra o apoio ao desenvolvimento da energia nuclear. Pois é. E continua contra. Horas depois de o programa ter vindo à luz, interlocutores da candidata foram a público para divulgar a primeira errata. Não, ela não quer dar apoio ao desenvolvido da energia nuclear. Um lembrete: Roberto Amaral, presidente do PSB, quando ministro da Ciência e Tecnologia de Lula, chegou a defender que o Brasil tivesse a bomba atômica. E como é que o programa veio a público sem a concordância de Marina? Vai saber.
Aí chegou a hora de fazer a segunda errata. Não. Marina, se eleita, não vai se comprometer com o casamento gay, mas apenas respeitar as consequências da decisão do Supremo, que equiparou as uniões civis hétero e homossexuais. Também não vai dar apoio formal ao PLC 122, a lei que criminaliza a homofobia, nem ao tal projeto sobre identidades sexuais.
Numa nota divulgada à imprensa, o PSB atribuiu os erros a uma “falha processual na editoração”. Sei lá o que isso quer dizer.
Que coisa. O programa de governo de Marina faz algumas críticas à democracia que são, a meu ver, francamente obscurantistas; flerta com mecanismos pernósticos de democracia direta e, acho eu, diz coisas bastante perigosas sobre a indústria ― tratarei desses assuntos em outra oportunidade. Mas só mesmo a mudança de redação do capítulo sobre os direitos da comunidade GLBT arrancou de setores da imprensa alguma crítica decepcionada. Atribui-se a alteração à religião de Marina, que pertence à Assembleia de Deus e foi, sim, criticada por muitos pastores.
Quando há uma bolha favorável a alguém no noticiário, até a crítica funciona ao contrário, não é mesmo? Em vez de prejudicar, ajuda. De fato, todas as promessas que estavam no programa eram matéria a ser decidida pelo Congresso, não tarefa do Executivo. Uma coisa é um candidato se comprometer com o apoio genérico à causa da igualdade; outra, distinta, é entrar em minudências e garantir suporte a este ou àquele projetos em particular. Da forma como estava, com efeito, o programa de Marina mais tirava votos do que rendia adesões.
Nem entro no mérito se ela cobrou a alteração da redação pensando no eleitorado ou na sua religião. O que sei, e isto me parece claríssimo, é que a insistência da imprensa em atribuir as opiniões de Marina nessa área à sua confissão religiosa ― e isso é sempre noticiado com viés negativo ― mais fortalece do que enfraquece a candidata.
O PLC 122 é um texto ruim e autoritário. A tal proposta sobre identidades sexuais, com a redação que tem, é uma aberração. Marina tem falado, a meu ver, bobagens estratosféricas ― como aquela sobre os transgênicos. A correção do conteúdo do que ia no capítulo sobre a comunidade GLBT é um de seus acertos. Não obstante, é justamente esse o aspecto que mais lhe rendeu críticas na imprensa. Assim fica fácil demais para ela, não é mesmo?
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