Entrevista do ex-ministro Moreira Franco mostra que ele não acredita na sobrevivência do governo Dilma

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 21/09/2015 11h51
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Antonio Cruz/Agência Brasil - 22/05/2013 Ex-ministro da Aviação Civil Moreira Franco

Moreira Franco, ex-ministro da Aviação Civil de Dilma, ocupa no PMDB um papel político muito mais relevante do que tinha na gestão petista. É tido como um de seus principais formuladores — para os petistas mais exaltados, é só mais um conspirador, papel que atribuem também a Michel Temer, vice-presidente da República. Ignoram que Temer era, até outro dia, coordenador político do governo e que, na prática, foi tirado de lá pelo PT. Sim, ele pediu pra sair porque não havia razões para ficar.

O ex-ministro concede uma entrevista a Daniela Lima na Folha desta segunda. Embora ele não faça nem previsões nem antevisões, é difícil crer que Moreira Franco acredite que Dilma chegue ao fim do mandato.

De saída, Moreira responde à acusação mais frequentemente feita por petistas e dilmistas:
“O PMDB não conspira, não trai. Ao longo de toda a sua trajetória, e são 50 anos, o PMDB sempre teve a política como ferramenta de atuação. É um partido que tem a cultura da conversa, do diálogo e da maioria. O impeachment não pode ser tratado como algo banal, trivial. Ele não é. Mas aqui foi um tema introduzido pelo governo e, mais grave, pela presidente.”

Bem, ele diz a verdade. Cansei de chamar atenção para esse aspecto aqui. Quem primeiro levou o tema do impeachment para dentro do Palácio do Planalto — e, portanto, para o Palácio do Congresso — foi a própria Dilma, que fala obsessivamente sobre o assunto.

E esse foi apenas um de uma sequência impressionante de erros, que data ainda do tempo em que o PT vivia dias um pouco mais felizes. O principal desatino dos petistas foi buscar destruir o PMDB. Moreira Franco diz que os “companheiros” tentaram desidratar o partido e explica por que deu errado:
“Estamos aqui há 50 anos, temos raízes. O PMDB é o partido que derrubou uma ditadura sem matar ninguém, só na base da política. Nunca fomos um partido de donos, e isso, muitas vezes, não é compreendido.(…) Não há ressentimento por termos visto que a estratégia de montagem inicial do segundo mandato [de Dilma] foi diluir a força do PMDB. Sabemos nos proteger.”

Atenção, leitores! Identifiquei a determinação do PT de quebrar o PMDB, como agora aponta o ex-ministro, em abril de 2014. Fiz um comentário aqui no Jornal da Manhã:

O mais engraçadinho é que essa proposta de reforma política tem como principal alvo destruir o PMDB, que receberia menos verbas do fundo público de campanha do que o PT, estaria impedido de se financiar com empresas privadas (a não ser por intermédio do caixa dois, com os riscos inerentes a esse tipo de ação) e não contaria com as doações não estimáveis em dinheiro que os sindicatos sempre fazem ao petismo. Aliás, só os idiotas ainda não perceberam que, após quebrar a espinha do DEM e causar sérias avarias no tucanato nestes 12 anos, o alvo natural e necessário do petismo é seu principal aliado: o PMDB. É da natureza desse Leviatã do mundo das sombras.

Comentei isso há um ano e meio.

Pois é… É claro que esse não é um modo decente de tratar um aliado, não é mesmo? Das palavras de Moreira Franco, depreende-se que a relação PT-PMDB se esgotou. O peemedebista diz evitar torcer pelo impeachment de Dilma, mas fica evidente que não se moveria para impedi-lo. Leiam o que diz:
“O quadro é extremamente grave e não adianta fingir que não é. (…) Não dá mais para achar que vai cobrir o sol com a peneira. E isso não significa que o PMDB queira derrubar [a presidente], não. Não é objetivo, não é meta, não é desiderato. O que se quer é encontrar uma alternativa para o país.”

O pacote, única saída até agora apresentada por Dilma, seria essa alternativa? Parece que Moreira Franco acha que não. Responde:
“Ele é politicamente equivocado. Não se pode ter como força maior da solução o imposto, numa situação como a que estamos vivendo, com uma carga tributária monumental e uma má vontade construída politicamente há décadas. Não é possível que não tenha outra alternativa que equilibre melhor isso. Mas vamos ver como o Congresso vai agir. Tudo ali depende dos parlamentares.”

E o próprio ex-ministro diz não acreditar que o novo imposto seja aprovado no Congresso.

A entrevista de Moreira Franco é dura com o governo, mas é cuidadosa. Procura não antever cenários. Mas a gente tem a obrigação de apontar a sua síntese: é evidente que ele já não acredita na sobrevivência do governo Dilma.

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