Escândalo em estatal é ponta de iceberg; entenda

  • Por Jovem Pan
  • 13/10/2014 10h40

Reinaldo, então a roubalheira na Petrobras é só a ponta do iceberg?

Todo mundo sabe que o programa “Os Pingos nos Is”, que ancoro aqui na Jovem Pan,  manda para campos de reeducação do estilo quem emprega clichês como “corações e mentes”, “desabalada carreira” e “ponta do iceberg”, muito especialmente este último, que, depois daquele navio, vem carregado de morbidez e maus augúrios. O escândalo em curso na Petrobras, no entanto, não nos deixa outra saída. De tal sorte ele é acachapante que até o estilo tem de ser sacrificado. Sim, internautas, amigos, tudo o que Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef revelam é apenas… a ponta do iceberg.

Até agora, a imprensa não deu o devido peso a um trecho do depoimento de Paulo Roberto, que remete a uma questão de que tenho tratado com frequência aqui na Jovem Pan. Os descalabros que estão sendo revelados na maior estatal e na maior empresa brasileira são sintomas de uma doença profunda do país, que está na origem de boa parte da nossa desgraça, dos nossos desastres, das carências do povo brasileiro, de seu atraso, de sua miséria, de sua falta de esperanças, de sua falta de perspectivas: o tamanho do estado.

Não se trata de firmar aqui uma posição meramente ideológica, mais ou menos estado na economia, ou uma escolha de princípio. Estamos lidando é com matéria de fato. Num dado momento, do depoimento, o juiz Sérgio Moro pergunta a Paulo Roberto se as empresas que se encarregavam do pagamento da propina sempre cumpriam com a sua parte. E Costa diz o seguinte, ouçam com atenção:

Essas empresas, excelência, elas tinham interesses não só dentro da Petrobras, mas em vários outros órgãos de governo, não é?, vários órgãos de governo, a nível de ministérios, a nível de secretarias etc., compostas por elementos dos partidos. Então, vamos dizer: se elas deixassem de contribuir com determinado partido naquele momento, isso ia refletir em outras obras a nível de governo, que os partidos não iam olhar isso com muito bons olhos. Então, seria um interesse mútuo dos partidos, dos políticos e das empresas, porque não visava só a Petrobras, visava hidrovias, ferrovias, rodovias, hidrelétricas, etc.”

Entenderam? O que Paulo Roberto está a nos dizer é que a falcatrua, nos entes do estado, é universal. A Petrobras, então, nesse caso, era, de fato, apenas a ponta do iceberg. Esse mesmo Paulo Roberto já acusou as empreiteiras de atuar de forma cartelizada, um cartel que o Cade, comandado por um peixinho de Gilberto Carvalho, nunca se ocupou, pelo visto, de investigar. Mas isso ainda é o de menos: a ser verdade o que diz Paulo Roberto, e ele sabe muito bem como ficou multimilionário, o aparelhamento do estado, além de conduzir à ineficiência, ao atraso, ao desastre, também serve à roubalheira mais escancarada.

A sua fala não deixa dúvida: há uma estrutura gigantesca, organizada e treinada para drenar os recursos públicos. Sendo como ele diz, as empreiteiras entram, sim, como as corruptoras, mas observem que ele diz também que não lhes restam muitas alternativas. Por que elas não denunciavam? A ver. No mais das vezes, creio, o pragmatismo lhes diz que sua tarefa é fazer obras, não arrumar processos na Justiça.

Para a tristeza do estilo e a má sorte dos brasileiros, a roubalheira na Petrobras é, sim, só a ponta o iceberg.


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