Esforço para matar os protestos de rua contra a corrupção é indecente

  • Por Jovem Pan
  • 08/12/2014 12h31
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Reinaldo, quer dizer que há gente que anda com raiva do povo?

Pelo visto, sim. Há gente no Brasil achando que só manifestações das esquerdas são democráticas – justamente as da turma que é inimiga teórica e prática da democracia. Mais: há espertinhos lendo pelo avesso uma pesquisa Datafolha publicada nesta segunda pela Folha. Já chego lá. Antes, algumas considerações.

O esforço para matar os protestos de rua contra a corrupção é indecente e junta, como não poderia deixar de ser, os petistas e parte expressiva da imprensa. A má vontade dos jornalistas chega a ser eticamente asquerosa. Se eu dispusesse de tempo para isso, não ficaria difícil demonstrar que os black blocs mereceram tratamento bem mais respeitoso. Façam o trabalho vocês mesmos. Recuperem as notícias sobre os mascarados, que chegaram a ser tratados até como estetas.

Já os que se manifestam contra a roubalheira na Petrobras são jogados na vala dos golpistas. Mas espero que os manifestantes não desanimem. Para tanto, não podem ficar ao relento. Já chego lá.

No sábado, cerca de 5 mil pessoas – segundo estimativas da PM – foram às ruas em São Paulo para protestar contra o assalto ao estado brasileiro. Os que organizaram a manifestação fizeram tudo certo: distinguiram-se dos idiotas que pedem intervenção militar e os isolaram, deixando claro que o impeachment de Dilma está condicionado, como não poderia deixar de ser, à comprovação de que ela sabia de tudo. Ou por outra: os que protestavam levavam à rua um discurso afinado com a democracia e com o estado de direito.

Mas quê. Os manifestantes estão sendo tratados com ironia, desprezo e sarcasmo. Chega a ser nojento. Nesta segunda, a Folha publica números de uma pesquisa Datafolha indicando que, para 66%, a democracia é sempre melhor do que qualquer outra forma de governo. Dizem não se importar com o regime 15%. Apenas 12% sustentaram que, sob certas circunstâncias, uma ditadura pode ser melhor. E 7% afirmam não saber.

Maliciosos estão querendo ver uma dissonância entre esses números e os que vão protestar. Ou por outra: os que vão às ruas contra Dilma estariam na contramão dos 66% que defendem a democracia. Na melhor das hipóteses, é uma bobagem. Na pior, uma canalhice. O que essa gente sustenta? Que a democracia é boa desde que não seja posta em prática? Ora.

É preciso tomar cuidado com ligeirezas. Em artigo na Folha de domingo, Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, e Alessandro Janoni, diretor de pesquisas, produziram um parágrafo que não honra a especialidade de ambos. Lá está escrito:

“Quanto às mobilizações populares da oposição, sua ocorrência localizada e regional – assim como o ruído em suas intenções – têm servido muito mais para fixar a ideia de provincianismo na empreitada do que propriamente para gerar fato político relevante para a população”.

Epa, aí não. Pergunto à dupla: isso é pesquisa ou é só preconceito? Os pesquisados estão dizendo que os protestos são “provincianos”, “localizados” e “regionais”? A propósito: como é que surge uma manifestação universalista, generalizada e nacional? Assim não, rapazes. Isso não é pesquisa, é chute; não é nem análise nem opinião técnica, mas só uma visão preconceituosa da mobilização.

Ah, sim: a pesquisa aponta também que, para a maioria, a miséria do sistema de saúde é um problema mais grave do que a corrupção. E daí? Isso quer dizer que as pessoas não se importam pouco com a roubalheira? Não. Isso apenas quer dizer que a saúde consegue ser ainda pior do que a corrupção. Entenderam?

Para encerrar: o senador eleito por São Paulo, José Serra (PSDB), compareceu ao protesto do sábado. Fez bem. Aliás, é o que deveriam fazer todos os líderes tucanos. Nem que houvesse apenas 50 pessoas nas ruas. E tanto mais devem fazê-lo num momento em que antigos defensores das “manifestações populares” deram agora para achar que os que protestam são golpistas ou provincianos. A menos que estes carreguem a universalista bandeira vermelha nas mãos. O vermelho? Ok, serve de alusão aos milhões que morreram ao longo da história para realizar a utopia desses bananas.

 

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