Especialista vê poucas diferenças entre Dilma e Aécio; buraco é mais embaixo

  • Por Jovem Pan - Nova Iorque
  • 21/10/2014 20h03

Mesmo com o drama intenso e do suspense eleitoral, as diferenças entre Dilma Rousseeff e Aécio Neves não são profundas. Essa é a avaliação de Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano, um centro de estudos de Washington. Ele é observador de primeira classe dos cenários na América Latina, invariável referência da imprensa americana quando ela precisa de uma citação abalizada.

A campanha pode ser eletrizante e imprevisível, na expressão de Mr. Shifter. Existem as farpas, as baixarias e os contrastes, mas o nosso observador não se surpreende. Ele argumenta que não existe um afiado choque ideológico entre petistas e tucanos. Shifter traça um paralelo com a esquerda britânica nos anos 90, quando o New Labour de Tony Blair destronou o Old Labour dominado pelos sindicatos.

Na minha observação, estas batalhas na esquerda que remontam ao final do século 19 são históricas e não devem ser minimizadas. Elas sinalizam mudanças de rumo. E o pessoal do Old Labour está morrendo de velho e não na cadeia, enquanto companheiros do Old PT no Brasil.

No entanto, Shifter insiste nas afinidades e não nas bicadas entre tucanos e petistas. Ele escreve que Mrs. Rousseff e Mr. Neves querem “crescimento e estabilidade, redução de pobreza, melhores serviços públicos e mais infraestrutura. Ambos desejam melhores relações com Washington”. Shifter é tão insistente que observa que nesta reta final os dois candidatos “quase que convergiram” nas propostas para reforçar os programas sociais, ceifar a corrupção, proteger o meio ambiente e estimular o crescimento econômico. E tudo isto reduzindo a inflação.

Com uma ironia condescendente (ok, eleitores muitas vezes merecem), Shifter observa que os “eleitores têm exibido um desejo razoável para ter tudo: continuidade dos programas sociais associados ao PT (ele não menciona que muitos programas nasceram antes do governo Lula), casada com o fim da política usual e práticas corruptas correspondentes que não são apropriadas em uma sociedade democrática moderna.

Shifter toma nota da questão de corrupção e reconhece ser uma das “principais vulnerabilidades” de Mrs. Rousseff. Ele também nota o processo de aparelhamento da burocracia estatal empreendido pelo PT, mas observa tudo isto sem maiores solavancos cerebrais ou sensibilidade. Há uma falha essencial nas observações de Shifter. Ele insiste que o duelo eleitoral é basicamente uma disputa entre projetos gerenciais em um país no qual existe um amplo consenso sobre o caminho que deve ser seguido.

No Brasil, porém, o buraco é mais embaixo.

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