Está na hora de importar os técnicos de futebol também
Reinaldo, você está querendo importar técnicos de futebol?
Estou sim, e explico porque. Em matéria de Seleção Brasileira, há uma contradição que me parece insanável. Praticamente a totalidade dos jogadores escolhidos atua em times estrangeiros. Além do seu talento, o que se quer é também a sua experiência internacional em centros de alta performance futebolística – coisa que o Brasil, convenham, há muito tempo não é. Na hora, no entanto, de escolher um treinador, ficamos mesmo com a prata da casa – que anda uma lástima. Escrevi há dois anos, quando Felipão foi indicado, e repeti ontem no blog: ele foi guindado para a Seleção Brasileira quando havia acabado de contribuir, de modo importante, para mandar o Palmeiras para a segunda divisão. Tem uma carreira com méritos, incluindo uma Copa do Mundo, mas me parece evidente que está ultrapassado. O vexame que a Seleção Brasileira sofreu foi, antes de tudo, tático.
Nesta terça, nós todos vimos Felipão, na beira do campo, a dar um pito em alguém – talvez em David Luiz: “Não adianta! Está seis a zero!”. Repetiu a fala e reproduziu o placar com uma mímica. O que estaria querendo dizer com aquilo? Nem Deus sabe, não é? Se o Altíssimo gostasse de futebol, naquela hora, estaria se regozijando com outras ovelhas, não com as nossas.
A CBF dispõe de condições e recursos para contratar técnicos estrangeiros. Dos que estão na praça, me digam: quem está em condições de oferecer algum diferencial à Seleção? Felipão, com todo o respeito à sua trajetória, transformou-se num distribuidor de camisas. A escalação que fez contra a Alemanha não evidencia ignorância apenas sobre o seu próprio time, mas me parece, e isto é mais grave, está a evidenciar também uma leitura errada do time alemão. Não me lembro, no tempo em que acompanho futebol, de ter visto um time montado sem meio de campo.
E fomos amargando, então, alguns recordes negativos:
1: a pior derrota da nossa Seleção em Copas;
2: o pior resultado da equipe em todos os tempos, incluindo amistosos: antes, havia perdido de 5 a 1 para a Bélgica, em 1963, e de 6 a 0 para o Uruguai, em 1920;
3: a pior derrota de um time numa semifinal de Copa do Mundo;
4: tomou o maior número de gols em menos tempo: em 29 minutos, foram cinco;
5: quatro dos sete gols alemães foram feitos em 6 minutos: aos 23, aos 24, aos 26 e aos 29;
6: três gols resultaram de bolas roubadas, como quem toma doce de criança;
7: ao fazer seu sétimo gol, a Alemanha tinha realizado 13 finalizações – 54% de eficiência, o que deve também ser recorde;
8: durante todo o primeiro tempo, o Brasil fez 2 finalizações – a Alemanha, sete, com cinco gols.
9: perder é do jogo; deixar-se humilhar é coisa de quem não respeita a história alheia nem a própria.
Pelas mesmas e óbvias razões por que exportamos jogadores, está na hora de importar treinadores – e isso vale também para os grandes clubes. Está na cara que o Brasil se tornou, no futebol, um país de Jecas-Tatus, eternamente de cócoras sobre a própria incompetência. E olhem que não faltam salários milionários aos nossos técnicos. Dá para trazer os melhores que atuam nas grandes praças futebolísticas do mundo.
Os jogadores talentosos estão aí. Continuam a ser fornecidos todos os dias pelas escolinhas e pelas periferias deste Brasil imenso. Mas a CBF, assim como o país, tem de mudar. Sim, é preciso aprender com as derrotas. Quando essa derrota é um vexame sem precedentes, é preciso uma terapia de choque.
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