“Estamos vivendo uma espécie de despertar democrático”, diz Nêumanne
Nêumanne, o episódio do reencontro do neto de Estela de Carlotto, Gudo, desaperecido em 1978, em Buenos Aires, provoca uma emoção que vai do Papa ao mundo inteiro. Você acha que isso tem alguma razão de ser?
Me lembro muito bem que fui para Buenos Aires acompanhar o julgamento dos militares na ditadura, fiquei muito emocionado numa sessão em que uma ex-presa política contou como nasceu sua filha Tereza e foi transmitido por todo presídio o fato: Tereza, a que nasceu presa.
Vejo agora também com muita emoção o fato de que uma das mães da Praça de Maio, Estela de Carlotto, ficou muito feliz, enfim, ao localizar o neto vivo e saudável, com 36 anos, com outro nome, mas na verdade Guido, filho de sua filha.
O assunto foi comemorado pelo Papa Francisco, pelo Maradona, pelo Lionel Messi, pelo Ministro da Economia, Axel Kicillof, por mim e por você, né? Eu acho que nós temos que comemorar o seguinte: esta noite que passou na América Latina, mais na Argentina que no Brasil, acabou. Nós estamos vivendo uma espécie de despertar democrático.
Despertar não é assim um mar de rosas, há muitas dificuldades a serem enfrentadas. A democracia, como dizia o Winston Churchill, é o menos imperfeito dos regimes políticos. O fato de mães terem sido privadas das companhias de seus filhos nos porões das ditaduras do Brasil e de outros países da América Latina, é algo que pertence ao passado e que nós todos esperamos que não volte.
Nós todos temos que ser muito firmes mesmo, de um lado ou de outro. Nós temos que combater todo tipo de intolerância, de direita, de esquerda, dos que entram no poder e não querem mais sair, que pra isso preferem entorpecer as massas, trabalhar de forma aguda censurando notícias e impedindo opiniões.
O sorriso de dona Estela de Carlotto deve ser o sorriso de todos nós, mas acompanhado de gestos e de ação. Estamos diante de novas eleições e podemos confirmar isso nas urnas.
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