Eunício levará Senado sem oposição; Renan continua forte
Se a futura presidência da Câmara carrega o signo da incerteza — ao menos até que o STF não se pronuncie a respeito —, não há surpresa nenhuma no Senado. O presidente será Eunício de Oliveira (PMDB-CE), o chefe da tesouraria do seu partido há 14 anos. Deve ser praticamente aclamado presidente na eleição deste dia 2, quinta-feira. Com um patrimônio estimado em R$ 100 milhões, é um dos políticos mais ricos do país — riqueza que, costuma enfatizar, foi amealhada na inciativa privada. Passou liso pelas delações? Não! Nelson Mello, ex-diretor da Hypermarcas, afirmou em sua delação premiada ter transferido, em 2014, R$ 5 milhões para a campanha do senador ao governo do Ceará. A operação teria sido realizada por meio de contratos fictícios.
Não está sendo investigado ainda nem em inquérito. Assim, está livre, leve e solto para se eleger presidente do Senado. E tudo indica que será sem disputa. Está ultimando uma chapa única, que vai obedecer à rigorosa representação dos partidos. E pronto!
Eunício é um fiel escudeiro do presidente Michel Temer? Respondo assim: digamos que não haja motivos para ser infiel. Era o líder do PMDB no Senado durante a crise aguda do governo Dilma. Tentou, sim, pôr panos quentes. Não deu, como se sabe. No processo de admissão do impeachment no Senado, era considerado um voto incerto pelos dois lados. Ainda me lembro de um amigo pró-impeachment, que acompanhava obsessivamente os bastidores. A três dias da votação, ligou: “Eunício virou!” isso queria dizer que ele teria migrado para a turma pró-Dilma, que só precisava de um terço dos votos. Os que a queriam fora é que precisavam de dois terços. Eu tinha fontes boas nos dois grupos. E ambos os lados diziam: “Eunicio está com a gente”.
Ou por outra: ele transita bem em todas as áreas. E as festas em sua mansão no Lago Sul juntam gregos e troianos.
E Renan?
E Renan Calheiros (PDMB-AL), este impressionante evento — não vale chamar de “milagre” — da política brasileira? Segue com tudo no PMDB, mesmo sendo réu, em ação que nada tem a ver com petrolão, e investigado em 10 inquéritos — estes, sim, da Lava-Jato.
Em outras circunstâncias, o candidato do seu coração seria Romero Jucá (PMDB-RR), mas esse também está na mira na operação. Então que vá Eunício, com quem o alagoano mantém relação cordial. Não se enganem: o desprestígio de Renan fora do Senado; o ódio que esquerdistas e conservadores secretam contra ele nas redes sociais; todo a pancadaria, em suma, nada tem a ver com o prestígio de que goza intramuros. E em todos os partidos.
E, ora vejam, o mega-investigado desponta, acreditem, como o líder do PMDB no Senado, justamente o cargo que Eunício ocupou. É uma posição de poder. E Renan já avisou que está na pista. Se decidir que quer mesmo o cargo, e acho que ele quer, é improvável que algum peemedebista queira disputar voto com ele.
Há algum impedimento para um investigado, mesmo já sendo réu, ocupar a liderança de um partido? Resposta: nenhum! A influência de Renan, claro!, cai bastante, mas ainda se mantém nas alturas. O PMDB detém 20 dos 81 senadores.
“Ah, mas não pega mal para o PMDB ter alguém assim como líder?” Bem, meus caros, vamos ser realistas? Que partido hoje não tem nomes graúdos entre os investigados, seja por propina, seja por caixa dois, seja por uma coisa atrelada a outra — mas sempre vendidas ao público como se fossem a… mesma coisa? Ora, se todo mundo é igual, então ninguém é diferente. Renan é o primeiro a concordar com isso.
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