Ex-gays: eles também existem

  • Por Rachel Sheherazade/ JP
  • 29/04/2015 12h54
SP 3º - Marco Feliciano (PSC) Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr SP 3º - Marco Feliciano (PSC)

Hoje eu poderia denunciar mais um caso de racismo, de preconceito contra nordestinos, discriminação contra mulheres, ou homofobia. Mas quero falar de um tipo de preconceito silencioso e pouco difundido que sofrem os chamados ex-gays – homossexuais que, por razões diversas (religiosas, sociais ou de foro íntimo), decidiram deixar a prática ou a condição de homossexuais.

O deputado Marco Feliciano convocou uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos para discutir o assunto.

O parlamentar, que também é pastor, e desenvolve um trabalho voltado a cristãos gays, defendeu o debate dizendo que os ex-homossexuais enfrentam duplo preconceito da sociedade: tanto dos héteros, quanto dos certos grupos LGBT, que os tratam como dissimulados, fingidos ou doentes mentais.

Nove ex-gays foram convidados a participar da audiência e contar, aos parlamentares, seus dilemas, seus sofrimentos, e o preconceito de que são vítimas. A intenção é cobrar proteção do Estado a essas pessoas, por se tratarem da minoria de uma minoria.

Apesar da forte discriminação, os novos héteros não têm medo de mostrar o rosto, nem de relatar suas sofridas historias de vida. Vídeos de ex-gays estão se proliferando nas redes sociais, com um alerta em comum: “Eu existo”.

Os depoimentos, que postarei em meu blog pessoal, revelam a angústia de quem decidiu mudar de opção sexual, um direito de qualquer cidadão – gay ou não.

Leon Danys, homossexual desde os 14 anos, conta que teve apoio total da comunidade LGBT para se assumir; que, à época, sofreu preconceito por ser gay, mas, foi muito mais repreendido quando decidiu voltar a ser hétero.

Raquel Celeste, ex-lésbica, revela que após ser abusada dos 8 aos 15 anos, achava que não seria feliz ao lado de um homem, por isso, se assumiu gay. Quando deixou a homossexualidade, passou a ser discriminada. Disseram-lhe que o que ela vivia era uma mentira. Mas, Raquel rebate: “ninguém está na minha pele para dizer o que eu sinto ou deixo de sentir.”

Carlos Kenne também sofreu violência sexual na infância. Hoje sofre outra forma de abuso. É discriminado pelos amigos; acusa o ativismo gay de perseguição e ameaça; e ainda completa: “Até o Conselho de Psicologia não nos reconhece. Para eles, eu não existo. Mas, eu existo. Eu sou livre, numa nação livre, para viver segundo aquilo que eu acredito.”

A psicóloga Marisa Lobo é uma das que apoiam e reconhecem a condição dos ex-gays. Ela está redigindo um relatório para ser entregue à ONU, onde descreve cerca de cem casos de gays e lésbicas que mudaram sua opção sexual.

Se gays não têm cura, pois a homossexualidade não é, definitivamente, uma doença, eles têm ao menos o direito de tentar mudar de opção, se assim o quiserem. A isso, damos o nome de livre-arbítrio.

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