A exemplo da cassada Dilma, o cassado Cunha acusa a imprensa — no caso, a Globo!
Que coisa, né? Todos os cassados têm a mesma retórica. Ficam indignados com a imprensa. Foi o caso, como se sabe, de Dilma Rousseff. Até naquela sua malfadada carta, a tal “mídia monopolizada” levou umas porradas. Esses governantes brasileiros devem ter uma inveja danada daquele anão com cara de tarado que governa a Coreia do Norte. Kim John-un não precisa se preocupar com a imprensa. Seu pai, Kim Jong-Il também não precisava. E o mesmo se diga do pai do pai: o Kim il-sung. É sem imprensa que se faz um pais faminto, com bomba atômica e armado até os dentes. Nas democracias, a coisa é diferente.
Também Eduardo Cunha resolveu atacar a imprensa — no caso, voltou-se particularmente contra a Rede Globo. Sugeriu que a emissora praticamente exigiu que os deputados votassem contra ele. Não ficou claro de que modo isso teria sido feito. A exemplo de Dilma, ele também não disse o que gostaria que a imprensa fizesse.
É claro que está apenas buscando um bode expiatório. Sim, ele mentiu numa CPI, e isso caracteriza a tal “quebra de decoro”. Mas é evidente que não caiu só por isso. Assim como Dilma não foi defenestrada só por causa do crime de responsabilidade. Nos dois casos, estamos diante da chamada “condição necessária, mas não suficiente”.
Sem o crime, Dilma não teria caído. Só com ele, também não. Sem a grana no “trust”, Cunha não teria caído. Só com ela, também não. Ocorre que, contra a petista, há as maracutaias do petrolão, lideradas pelo seu partido, e o desastre na economia e na gestão. Nada disso entra nos autos. Mas entra na consciência de quem julga, ora bolas. Contra o agora ex-deputado, havia aquela “coisa do trust”. Não houvesse mais nada, também teria sido salvo. Mas e as múltiplas delações premiadas que o colocam como uma máquina de fazer o interesse público render benefícios privados?
Cunha acusa a imprensa, mas ele não entendeu que a desgraça de Dilma sempre foi a sua própria, ora bolas! Não havia chance de ela ir para o cadafalso, e ele se salvar. E não porque haveria a hora da vingança, como ele sugeriu em seu discurso. Mas porque a metafísica que tornou impossível a permanência dela no poder também tornaria impossível a dele.
Sabem quem percebeu isso antes de todos? Luiz Inácio Lula da Silva. Este, sim, é o rei do “salvemo-nos todos, e o povo que se dane”. Lula, lembrem-se, queria que Cunha fosse o candidato do governo à Presidência da Câmara. Lula queria que Dilma se entendesse com o PMDB. Mas ela tinha ideias muito próprias sobre economia, política e estratégia… E Cunha também.
Como num filme de Tarantino, morreram todos no fim.
Ainda bem!
Agora é esperar que os fantasmas saiam do armário.
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