Fala de Nestor Cerveró é positiva para Dilma; entenda
Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras que fez o resumo executivo da compra da refinaria de Pasadena, depôs ontem na Câmara. Por que você diz que sua fala é ilógica, mas foi positiva para Dilma?
Vou tentar explicar, olá amigos e internautas da Jovem Pan. Havia certa expectativa de que o depoimento de Cerveró pudesse deixar o governo numa situação um pouquinho mais difícil. Nunca foi a minha, deixo claro.
Para começo de conversa, seria preciso que ele confessasse ter cometido algum deslize, mas em parceria com o Planalto, o que obviamente não faria por que iria se complicar também. Ainda que Dilma e Graça Foster, chefona da Petrobras, o tenham transformado no vilão da história, Cerveró fez o óbvio e lógico para os três. Assegurou absoluta lisura da compra de Pasadena e sugeriu até que foi um bom negócio.
É hora de deixar a ingenuidade do lado de fora da sala. É claro que esses depoimentos estão sendo meticulosamente planejados por advogados, e não há nada de errado nisso. Preste-se atenção, por exemplo, na fala de Graça Foster aos senadores na terça-feira. Ela apontou sim omissão culposa de Cerveró, que não incluiu as cláusulas Put Option e Marlim no resumo executivo, endossando o discurso de Dilma, mas descartou ação dolosa. Tudo se resumiu, segundo ela, a um equívoco, que conduziu a um mal negócio.
Cerveró não aceita nem isso, diz ter omitido as cláusulas porque elas não eram importantes. Dividiu ainda a responsabilidade com a direção executiva da empresa e também tentou se esconder atrás do conselho, a exemplo do que fez Dilma. Ocorre que esse mesmo conselho vetou a compra dos outros 50% da empresa, certo? O que gerou a disputa judicial. E a Petrobras só teve que levar a compra da refinaria, ao fim de tudo, pelo valor de 1,3 bilhão, por causa de uma das cláusulas que o conselho desconhecia e que Cerveró julga sem importância.
Essa coisa, “sem importância, custou à Petrobras um desembolso superior a 800 milhões de dólares, correspondentes à compra da segunda metade da refinaria. Infelizmente a história não fecha.
A exemplo de Graça, Cerveró diz não ser verdade que a Astra Oil tenha comprado todos os ativos da refinaria de Pasadena por 42,5 milhões de dólares. Teriam custado na verdade 360 milhões de dólares ao grupo belga. Tá certo.
360 milhões de dólares, no entanto, foi o que a Petrobras pagou por apenas 50% da refinaria. Talvez a tal situação do mercado à época explique então uma valorização de 100% em menos de um ano, já que não há mercado que explique o abacaxi de 1,3 bilhão de dólares.
O depoimento de Cerveró não poderia ter sido melhor para o governo. Ele só descorda de Dilma e Graça em uma coisa: essa é uma história sem culpados. Só há inocentes neste fabuloso prejuízo, segundo ele.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.