As falhas humanas que deram no acidente que matou Teori
Tão logo se confirmou a morte de Teori Zavascki, ministro do Supremo, vigaristas das mais diversas colorações puseram para circular teorias conspiratórias, com a lógica asnal que tão bem os caracteriza. Afinal, se o ministro lidava com matéria tão delicada para o país e que envolve gente importante, então é evidente que foi assassinado. Como assim?
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Ora, o destino, o acaso, não distingue um mendigo de um magistrado da corte suprema. É pouco provável que o primeiro morra num acidente de jatinho particular, é bem verdade. O acaso, ou o erro humano, vai colhê-lo em outro lugar.
Tomei pancada de todo lado ao descartar, de cara, a hipótese de atentado. Praticado por quem? Com que propósito? Frear a Lava Jato? Mas, então, não haveria operação sem Teori? Isso é uma patacoada. Pois bem: uma análise preliminar do áudio da cabine indica que o piloto nada percebia de errado com o avião. Apenas há o registro de mau tempo.
O mais provável é que Osmar Rodrigues tenha sido vítima de uma forma de desorientação espacial, que responde por boa parte dos acidentes.
Pois é… Restará à turma da conspiração sustentar agora que, ora vejam!, todos estão mentindo, de sorte que a prova mais evidente de que Teori foi assassinado é não haver prova nenhuma de que foi. Ao contrário: os elementos conhecidos apontam mesmo é para uma falha humana, ou um conjunto delas, em razão das condições adversas.
“Ciscando”
Tive acesso a dois debates entre pilotos, que considero esclarecedor. O mais provável é que, pouco antes do acidente fatal, Osmar Rodrigues estivesse “ciscando”: é quando o piloto tem visibilidade para baixo, mas não para diante. É comum nas condições atmosféricas em que voava. O piloto vai, então, baixando o avião — “cisca” — pra ver se consegue vislumbrar algo à frente. É uma escolha perigosa em qualquer caso, tanto pior se está numa curva, como estava.
Os pilotos observam que o ponto de impacto se deu a menos de quatro quilômetros (quase 2 milhas náuticas) da cabeceira. Estava numa curva descendente muito baixa. Considera-se que um avião daquele tipo tem de estar “estabilizado” — ou seja, nivelado, com o rumo final, trem baixado e travado e velocidade constante — pelo menos 500 pés (uns 160 metros) acima do ponto em que estava e mais ou menos 1,8 milha náutica antes da cabeceira. Ou por outra: o piloto não tinha visibilidade, e o aparelho, desestabilizado, voava muito baixo e muito longe da cabeceira da pista. Estava tudo errado.
Mais: a situação dos destroços indica que o aparelho pode ter entrado voando na água. A pancada foi de tal sorte violenta que projetou a aeronave para diante, com cambalhotas (literalmente!). A força foi tal que arrancou a cauda e afundou a capota do cockpit.
Bem, esses são os fatos que temos. Sei que eles não alimentam a sanha dos idiotas e o espírito malévolo dos que querem somar à tragédia uma crise política ainda mais aguda do que aquela que já enfrentamos.
Falhas humanas, infelizmente, acontecem e podem colher pessoas que tinham sob sua responsabilidade tarefas essenciais para o país. Era o caso de Teori. A perda humana é irreparável. Cuidemos, então, de não juntar a ela uma perda também institucional.
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