Farsa populista avança sobre a Europa

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 06/12/2016 08h12

Presidente francês François Hollande discursa durante visita ao Instituto Árabe de Paris

IAN LANGSDON / POOL / EFE Presidente francês François Hollande discursa durante visita ao Instituto Árabe de Paris após atentando contra Charlie Hebdo

Annus horriblis para a União Europeia e 2017 poderá ser ainda pior para o status quo com este avanço populista que no domingo varreu do poder o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, derrotado no referendo sobre reformas constitucionais.

Existe um paradoxo neste avanço populista. É um voto contra reformas, na medida em que Renzi queria agilizar o processo legislativo para modernizar a Itália e torná-la mais competitiva. No voto contra o status quo italiano, existiu uma relutância por reformas.

E qual é a proposta de mudanças populistas em termos mais amplos na União Europeia e nos EUA, com a eleição de Donald Trump? Existe um clamor nostálgico, do desejo para que as coisas voltem a ser como eram no passado, um passado imaginário em que havia menos diversidade, menos poder para instituições multilaterais ou globais.

A voz populista (e poliglota) ecoa anseios de nacionalismo cultural e econômico. Basta ver o pendor protecionista de Donald Trump e de Marine Le Pen, candidata de extrema direita na França em 2017. Na base de sustentação de ambos, estão setores da classe trabalhadora que costumavam votar na esquerda. No caso francês, inclusive no Partido Comunista.

No caso francês, existe a ironía de que, a contragosto, o Partido Socialista do presidente François Hollande, quis fazer algumas reformas, no esforço que já fora empreendido anos atrás por partidos similares na Grã-Bretanha e na Alemanha. Acabou perdido no fogo cruzado entre esquerda e direita.

Hollande agora está numa situação melancólica, com taxa de aprovação de 4% (sem precedentes na França) e anunciou na semana passada que não irá concorrer à reeleição em 2017. E não fazia sentido tentar, pois não teria a mínima chance.

É preciso deixar claro um ponto: os movimentos populistas mais fortes hoje na Europa são conduzidos pela extrema direita (alguns são de esquerda e outros são um ensopado ideológico). Isto não significa que queiram desmontar o estado do bem estar social europeu, construído no pós-guerra.

Basta ver o duelo presidencial francês. No segundo turno em 2017 provavelmente será entre a extrema direita de Marine Le Pen e uma direita tradicional (e bem conservadora) capitaneada por François Fillon. Pois bem, Fillon prega um estado mais enxuto, mais horas de trabalho e elevação da idade de aposentadoria. E qual é a resposta de Marine Le Pen? Ela rouba slogans tradicionais da esquerda, acusando a plataforma de Fillon de ser “o pior programa de destruição social que jamais existiu na França”.

Enquanto isso, para a alegria de Vladimir Putin, Marine Le Pen quer destruir a União Europeia.

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