Fernando Haddad vira o candidato dos ricos e tem os pobres como adversários

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 03/11/2015 13h16
Haddad come coxinha durante inauguração da ciclovia na Avenida Paulista Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress Prefeito Fernando Haddad come coxinha

Segundo o Datafolha, 49% dos paulistanos considera sua gestão ruim ou péssima. Apenas 15% a veem como boa. Está escrito no meu blog: “Será que esses números indicam que Haddad está liquidado na disputa eleitoral do ano que vem? Deveriam indicar, sim! Para o bem da cidade. Mas pode não ser verdade, o que seria uma catástrofe. Tratarei disso em outro post”.

E eu havia me destinado a escrever justamente que, dado o perfil da disputa, com a fragmentação de votos, não é impossível o prefeito ocupar um segundo lugar, embora pareça difícil porque ele tem um adversário poderoso: o pobre!

Datafolha 1 - Pref. de SP

Se a eleição fosse hoje e se todos os nomes postos realmente disputassem, Celso Russomanno (PRB) ficaria isolado no primeiro lugar, com 34%. Há um triplo empate no segundo lugar: Marta Suplicy (PMDB), 13%; José Luiz Datena (PP), 13% ou 12% e Fernando Haddad (PT), 12%. Disputando o quinto lugar, mais um empate: Marco Feliciano (PSC) obtém 4% quando o candidato tucano é João Doria Jr. (3%) ou 5% quando Andrea Matarazzo (4%) aparece como o nome do PSDB. A margem de erro é de três pontos para mais ou para menos.

Mas será que todo mundo vai mesmo disputar? Eu aposto que Datena e Feliciano, por exemplo, não vão. Nesse caso, para onde migrariam os votos? Na eleição passada, viu-se que Russomanno é um candidato muito bom de largada, mas ruim de chegada. Quem fez picadinho do seu nome em 2012 foi o PT. Dada a gestão desastrada de Haddad, o deputado do PRB pode resistir à saraivada desta vez. Vamos ver.

Quando se cruzam os dados de renda com as preferências eleitorais, destaca-se desde logo uma ironia: Fernando Haddad, o petista, é o candidato preferido dos mais ricos, dos que ganham mais de 10 salários mínimos: até 23% dizem que votariam nele. Talvez o jornalismo devesse investigar a relação entre riqueza e bicicleta… O que lhes parece? O pior desempenho do prefeito se dá justamente entre os pobres, com até dois salários de renda: 6% ou 8%.

Datafolha 2 candidato renda

Nos demais segmentos de renda, Russomanno lidera em qualquer cenário, chegando a ter 37% entre os que recebem até dois mínimos e 39% entre os que vão de dois a cinco. Seu pior despenho está entre os mais endinheirados. Pode cair para 16%.

Marta e os pobres
A peemedebista Marta Suplicy obtém seu melhor resultado entre os mais pobres, antiga base de Haddad. Sim, o líder é Russomanno (até 37%); ela fica em segundo entre os que recebem até dois mínimos: 19%.

Até outro dia, havia quem apostasse que Russomanno pudesse não disputar. Salvo alguma bomba contra seu nome, parece difícil que desista. De todo modo, vai enfrentar máquinas poderosas. O PT tem tempo e recursos para fazer campanha. PMDB e PSDB também. Dinheiro não faltará ao PRB, o partido da Igreja Universal, mas pode faltar tempo.

Fragmentados como estão os votos, não é impossível, como eu disse, Haddad chegar a um segundo turno. Se Russomanno estiver em primeiro, os ricos do PT vão tentar, mais uma vez, convocar a luta do bem contra o mal. Com tempo e recursos, disputando pelo PMDB, e uma forte presença na periferia, Marta, no entanto, pode tirar de Haddad o segundo lugar.

O prefeito tem um desafio pela frente: convencer os pobres de que ele não governa para os ricos.

Vai ser difícil.

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