Fidel Castro e os seus vários obituários

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 02/12/2016 07h23
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FID03 - LA HABANA (CUBA), 26/11/2016.- Fotografía de archivo del 1 de mayo de 2006, del líder cubano Fidel Castro, en La Habana (Cuba). Castro murió a los 90 años de edad, informó hoy, viernes 26 de noviembre de 2016, su hermano, el presidente Raúl Castro, en una alocución en la televisión estatal. EFE/Alejandro Ernesto/archivo EFE/Alejandro Ernesto Fidel Castro em discurso em Havana em 2006; com o dom da oratória

A morte de Fidel Castro foi de fato um alívio para os editores de obituários. Quantas atualizações foram necessárias? O arquivo nunca estava morto. A trolha no New York Times sobre o ditador que morreu sexta-feira passada aos 90 anos foi assinada por Anthony DePalma, mas o jornal também publicou outra trolha, com relatos de 16 jornalistas (entre eles o do felizardo DePalma) sobre a feitura do obituário, cujo primeiro rascunho foi elaborado em 1959.

Randal Archibold conta que cada correspondente no México, inclusive ele, herdou e trabalhou no chamado plano de morte de Fidel Castro. Cada um imaginava que a morte aconteceria sob sua vigília. No entanto, o ditador cubano sobreviveu ao plantão de cada um, assim como a presidentes americanos desde Dwight Eisenhower.

Susan China foi editora de Internacional do jornal de 2004 a 2011. Ela conta que viveu um alarme falso atrás de outro e sempre tinha o plano da morte na mão. Chegou a ir a Havana em 2009 com o ex-editor executivo Bill Keller para tentar descolar melhor acesso quando Fidel morresse. A súplica morreu na praia.

A ex-editora relata que o obituário redigido por Anthony DePalma, cuja mulher fugira de Cuba com a família, foi editado e revisado de forma incontável por mais mais de 15 anos. E DePalma conta que nunca deixou de atualizá-lo, mesmo depois de deixar de trabalhar para o New York Times em 2008.

Fidel Castro custou a morrer e custou. William McDonald, o editor de obituários do jornal, calcula que ao longo dos anos nenhum obituário demandou tanto trabalho como o do finalmente finado.

O maior temor era o de que a confirmação da morte ocorresse às 22h de um sábado, atrasando a edição dominical. Até que o jornal deu sorte. O anúncio ocorreu muito tarde para a edição de sábado, mas deu para trabalhar com relativa tranquilidade para a edição do domingo. Obviamente, os leitores digitais puderam ler o obituário com o café da manhã no sábado.

A veterana editora Gina Lamb conta que ficou “surpresa” ao escutar que Fidel estava morto, pois vivera tanto tempo com ele, atualizando o obituário, a última vez em maio passado. Ela diz que na alcunha conferida por sua mãe, Fidel integrava o grupo de ditadores de Gina, pois editou também os de Saddam Hussein, Slobodan Milosevic e Muamar Khadafi.

Ainda há outros ditadores na praça e seus obituários deverão ser atualizados até que a morte nos separe.

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