Fidel Castro e os seus vários obituários
A morte de Fidel Castro foi de fato um alívio para os editores de obituários. Quantas atualizações foram necessárias? O arquivo nunca estava morto. A trolha no New York Times sobre o ditador que morreu sexta-feira passada aos 90 anos foi assinada por Anthony DePalma, mas o jornal também publicou outra trolha, com relatos de 16 jornalistas (entre eles o do felizardo DePalma) sobre a feitura do obituário, cujo primeiro rascunho foi elaborado em 1959.
Randal Archibold conta que cada correspondente no México, inclusive ele, herdou e trabalhou no chamado plano de morte de Fidel Castro. Cada um imaginava que a morte aconteceria sob sua vigília. No entanto, o ditador cubano sobreviveu ao plantão de cada um, assim como a presidentes americanos desde Dwight Eisenhower.
Susan China foi editora de Internacional do jornal de 2004 a 2011. Ela conta que viveu um alarme falso atrás de outro e sempre tinha o plano da morte na mão. Chegou a ir a Havana em 2009 com o ex-editor executivo Bill Keller para tentar descolar melhor acesso quando Fidel morresse. A súplica morreu na praia.
A ex-editora relata que o obituário redigido por Anthony DePalma, cuja mulher fugira de Cuba com a família, foi editado e revisado de forma incontável por mais mais de 15 anos. E DePalma conta que nunca deixou de atualizá-lo, mesmo depois de deixar de trabalhar para o New York Times em 2008.
Fidel Castro custou a morrer e custou. William McDonald, o editor de obituários do jornal, calcula que ao longo dos anos nenhum obituário demandou tanto trabalho como o do finalmente finado.
O maior temor era o de que a confirmação da morte ocorresse às 22h de um sábado, atrasando a edição dominical. Até que o jornal deu sorte. O anúncio ocorreu muito tarde para a edição de sábado, mas deu para trabalhar com relativa tranquilidade para a edição do domingo. Obviamente, os leitores digitais puderam ler o obituário com o café da manhã no sábado.
A veterana editora Gina Lamb conta que ficou “surpresa” ao escutar que Fidel estava morto, pois vivera tanto tempo com ele, atualizando o obituário, a última vez em maio passado. Ela diz que na alcunha conferida por sua mãe, Fidel integrava o grupo de ditadores de Gina, pois editou também os de Saddam Hussein, Slobodan Milosevic e Muamar Khadafi.
Ainda há outros ditadores na praça e seus obituários deverão ser atualizados até que a morte nos separe.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.