Finalmente o Cade deixará de investigar apenas administrações de oposição

  • Por Jovem Pan
  • 21/03/2014 11h57

Reinaldo, uma decisão do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) gerou uma troca de farpas entre o presidenciável Aécio Neves e o ministro José Eduardo Cardozo. Quem está certo?

Vou responder a sua pergunta com os fatos, aí os ouvintes chegarão bem depressa a uma conclusão. Como todo mundo sabe, o Cade investiga a formação de cartel na compra de trens do Metrô e da CPTM. Há pelo menos oito meses a imprensa é abastecida diretamente por informações vazadas desse órgão federal. Durante um bom tempo parecia que as empresas que fornecem trens também para as estatais federais e para outros estados só recorriam a essas práticas em São Paulo, governado pelo PSDB. Só agora o Cade anuncia que também está investigando contratos feitos com o Governo Federal.

O presidenciável Aécio Neves já disse o óbvio: finalmente o Cade deixará de investigar apenas a administração da oposição, emendando que seu partido não passa a mão na cabeça de malfeitores e pune quem tem de punir. O chefe do Cade na prática é o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, já que o órgão é subordinado à sua Pasta.

Cardozo se abespinhou, chamou Aécio de mal informado e disse que sua crítica é desqualificada. O ministro ainda falou o seguinte: “parece piada, o Cade investiga independentemente de questões políticas ou partidárias. Não é que o Cade mudou, ninguém investiga o que antes não tinha notícia de crime. A Siemens revelou problemas no indício de cartel em São Paulo e Brasília, mas não falou de outras situações”.

Com devida vênia, piada é a reposta do ministro, e vou dizer porque. Um: eu, eu mesmo, Reinaldo Azevedo, publiquei uma reportagem no dia 13 de Agosto do ano passado demonstrando que nos metrôs de Porto Alegre e Belo Horizonte apenas um consórcio se apresentou, formado pelas empresas CAF e Alstom.

Dois: no metrô de Porto Alegre, sob o comando da estatal federal TrensUrb, a Alstom ficou com 93% do contrato, e a CAF com 7%. No de Belo Horizonte, comandado por outra estatal federal, a CBTU, as posições se inverteram. A CAF ficou com 93% e a Alstom com 7%.

Três: isso foi publicado, insisto, há sete meses. Só agora o Cade sai da moita. O ministro vem com a desculpa esfarrapada de que o Cade só investiga se houver uma denúncia. No caso de São Paulo ela teria sido feita pela Siemens, com o tal acordo de leniência, uma espécie de delação premiada.

Quatro: o ministro omite a ativa participação do deputado estadual Simão Pedro do PT, hoje secretário da gestão Haddad, na denúncia contra o metrô e a CPTM de São Paulo. Omite que o ministro Vinícius Carvalho, presidente do Cade, já foi funcionário de Simão Pedro, fato omitido de seu currículo.

Cinco: em suma, não resta a menor dúvida de que o Cade direcionou, enquanto pôde, a sua investigação para São Paulo. Também não resta a menor dúvida de que houve uma verdadeira indústria de vazamentos contra as empresas do Estado administrado pelo PSDB. Agora finalmente o Cade teve de admitir que existem indícios de formação de cartel também em empresas estatais federais, cujo governo é comandado pelo PT.

Então encerro, Aécio disse o que? Finalmente o Cade deixará de investigar apenas administrações de oposição. Porque que José Eduardo Cardozo está bravo? Não entendi.

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