Fingindo democracia, Erdogan é o sultão como Putin é o Czar

  • Por Caio Blinder
  • 19/07/2016 10h38
EFE Erdogan

 Muitos devem conhecer a velha pérola de sanidade mental: mesmo os paranoicos têm inimigos verdadeiros. Este é o caso do quase ditador turco Recep Erdogan. O estadista turco resistiu com amplo apoio popular e não apenas dos seus zelosos partidários islamistas, à tentativa de golpe na sexta-feira passada.

Muitos me perguntam se o próprio Erdogan não armou o golpe, em uma espécie de autogolpe, para fazer o que está fazendo agora: uma caça às bruxas, prendendo, acusando e denunciando tudo quanto é tipo de gente?

Para mim, é inconcebível que tenha sido um teatro. O chefe de Estado estava genuinamente chocado com a aventura golpista. A intentona falhou por várias razões, desde planejamento à falta de apoio mais amplo nos círculos militares e civis.

No entanto, surpreende que tenha tido tanto apoio, embora seja difícil medir precisamente a dimensão, já que Erdogan está fazendo acertos de contas, prendendo e expurgando milhares de militares e juízes. O apoio ao golpe surpreende, pois, ao longo do seu regime, o líder da Turquia já tinha realizado muitos expurgos.

Está flagrante como Erdogan está indo à carga com fúria. Não dá para esperar coisa boa deste quase ditador, megalomaníaco, metido a sultão contemporâneo. No entanto, há limites para as suas ambições de poder quase absoluto.

O sonho desse político é se converter em um Putin islamista, mantendo algumas aparências democráticas, mas exercendo o poder de forma ferrenha e sem escrúpulos. O consolo é que a sociedade civil turca é mais dinâmica do que a russa.

No momento, Erdogan tem margem de manobra para seus abusos, mas, se passar da conta, haverá reação. Felizmente, a mesma coisa no Brasil, onde o lulopetismo pode ser travado pela sociedade civil.

O chefe do governo de Ancara tem apoio efetivo de metade da população, ou seja, ele é popular, mas polariza. Houve isso sim. Uma ampla mobilização nacional e internacional contra a aventura golpista. Ainda bem. Se o golpe fosse adiante, a Turquia teria sido palco de uma guerra civil. No entanto, Erdogan não vai aproveitar este momento para gestos de conciliação nacional.

Na verdade, tudo vai complicar. Perdão pelo trocadilho, mas a economia vai sentir o golpe, a Turquia está assolada por uma pilha de desafios, como a guerra civil na vizinha Síria, milhões de refugiados no país e, agora, a  colisão com o Ocidente vai ficar mais violenta pelos abusos que seu estadista está cometendo contra o aparato de segurança mais fraco e os expurgos. Separatistas curdos e os terroristas do Estado Islâmico vão tirar proveito da situação.

Veremos mais da paranoia de Erdogan e não a positiva. Com ele, todo nosso cuidado é saudável.

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