Governo começa a cortar gastos e vai se indispor com brasileiros de A a Z

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 14/09/2015 11h31
Presidente Dilma Rousseff EFE/Fernando Bizerra Jr. Presidente Dilma Rousseff

Que coisa, né? O governo se propõe agora a fazer com a faca no pescoço o que poderia ter feito antes, orientado por planejamento e método. O Planalto deve começar a anunciar nesta segunda as medidas que pretende adotar para zerar o déficit de R$ 30,5 bilhões previsto no Orçamento de 2016 e, ora vejam, resgatar a proposta de fazer um superávit de 0,7% do PIB.

O desespero bateu depois que a agência Standard & Poor’s rebaixou a nota do país, passando-o para a categoria de grau especulativo, e a de mais uma penca de empresas, muito especialmente da Petrobras, que caiu dois degraus de uma vez só e hoje tem uma nota inferior à do próprio país.

Tão logo houve o rebaixamento, o mundo político começou a debater abertamente o cenário pós-Dilma, expressando a certeza, que se generaliza mesmo entre petistas, de que a presidente não conclui o mandato porque, para repetir os termos de nota da Fiesp e da Firjan, “o governo não governa”.

Dilma se reuniu com ministros no sábado e no domingo. Ontem, definiu o valor do corte do Orçamento: pode chegar a R$ 22 bilhões, e já há um consenso de que não haverá como poupar os chamados gastos sociais. Nesta segunda, começam a ser detalhadas as medidas. A maior parte da economia virá das despesas discricionárias, definidas segundo as prioridades e escolhas do governo. Mas também as obrigatórias — Previdência e salário do funcionalismo, por exemplo — terão de ser contidas.

O desembolso com servidores, diga-se, pode virar foco de tensão. A Fazenda defende o reajuste zero, o que significaria uma redução de R$ 15 bilhões na despesa. Dilma ainda não decidiu. A CUT, braço sindical do PT e adversária do ajuste fiscal, comanda a quase totalidade dos sindicados de servidores federais.

A economia máxima que se faria com os cortes chega a R$ 22 bilhões, ainda inferior ao déficit previsto, de R$ 30,5 bilhões. Considerando que o Planalto agora diz que pretende fazer o superávit de 0,7% do PIB, o resto sairia da elevação de impostos — e ainda não se sabe de quais. A recriação da CPMF votou a frequentar o debate. Também está no cardápio a elevação do Imposto de Renda.

Ajuda ou atrapalha?

O governo está tentando fazer do limão uma limonada e do seu erro crasso uma janela de oportunidades. A que me refiro? Há em Brasília quem ache que o corte da nota, decidido pela S&P, acabou sendo positivo porque demonstrou ao Congresso a gravidade da situação econômica, o que facilitaria a aprovação de medidas duras. Não por acaso, o governo pretende negociar previamente com Renan Calheiros (PMDB-AL) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), respectivamente presidentes do Senado e da Câmara, a sua pauta de elevação de impostos.

Digamos que isso possa fazer algum sentido. A questão é saber se será eficaz para fortalecer o governo. Há um risco nada pequeno de as medidas provocarem uma indisposição generalizada. O corte de R$ 22 bilhões tende a afetar interesses da base petista, os grupelhos de esquerda que aparelham os ditos programas sociais e que ameaçam se rebelar no caso de cortes. Reajuste zero ou ínfimo para o funcionalismo federal é, como se sabe, uma convite à greve.

A elevação de impostos, por seu turno, tenderá a inflamar ainda mais amplas camadas da população que gritam abertamente nas ruas o “Fora Dilma”. A esta altura, já nem se trata de debater se houve ou não estelionato eleitoral, o que está evidenciado. É que ficará patente que o setor produtivo da sociedade terá de arcar com o peso do descontrole do governo.

Com a popularidade na casa de um dígito, Dilma terá dificuldade de fazer o Congresso se engajar em medidas cuja impopularidade é de amplíssimo espectro, indo de A a Z. Mais: o governo pretende também rever desonerações que ainda estão em curso, o que contribuirá para criar dificuldades adicionais com o empresariado.

Num primeiro momento, pode até ser que se perceba uma redução da tensão, com o mercado reagindo bem ao anúncio das medidas, mas o alívio tende a ser passageiro. Bastará que as ações comecem a ter efeitos sociais e políticos, e elas terão, e tudo volta a azedar.

Dilma chegou ao ponto em que nenhuma resposta é boa. E isso só acontece quando um governante já passou do ponto.

Por Reinaldo Azevedo

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