Guido Mantega entrou na campanha eleitoral; por que não se cala?
Reinaldo, então Guido Mantega, ministro da Fazenda, entrou na campanha eleitoral?
É, entrou sim, infelizmente para o país! A propósito, só para comparação: vocês, por um acaso, viram, ou ouviram, algum secretário de Geraldo Alckmin fazendo bate boca eleitoral durante a disputa pelo governo de São Paulo? Pois é… Mantega é o primeiro caso da história de ex-ministro da Fazenda no cargo. Nunca antes na história deste mundo. Nessa condição, ele poderia ao menos ficar caladinho. Mas ele fala. Em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, o narrador se diz “um defunto autor”, não um “autor defunto”. Como analista de política e de economia, Mantega é um “ministro defunto”, não um “defunto ministro”. Convenham: ninguém mais dá bola para o que diz, a não ser para escarnecer.
Nesta terça, o homem que erra previsões sobre economia mais do que institutos de pesquisa antevendo os votos de Aécio Neves, veio a público para fazer um pouco de terrorismo eleitoral. Sabem como é… A desocupação é a morada do capeta. Eu, por exemplo, tenho três empregos. Ninguém me surpreende fazendo fofoca ou revelando nas redes sociais o que acabei de comer ou de ouvir. Não tenho tempo. Mas Mantega, sem nada para fazer, anda com tempo de sobra. Afirmou sobre Armínio Fraga, que será ministro da Fazenda de Aécio Neves se o tucano for eleito presidente:
Me preocupa muito que o mesmo gestor da política monetária possa voltar e vá querer derrubar inflação com choque monetário, como foi feito no passado”.
Em primeiro lugar, quem disse que o Armínio, se ministro, dará um “choque monetário”? Isso é uma ilação maliciosa de um desocupado. Em segundo lugar, o ministro fala como se a taxa de juros no Brasil estivesse baixa, não é mesmo? É a maior do mundo em termos reais. A convergência maldita, senhor Mantega, é outra: os juros já estão lá na ponta do pavio, o crescimento na ponta oposta, e a inflação roçando o teto da meta. De fato, a gente não precisa de choque monetário, mas de outro governo, como até a presidente Dilma reconheceu, não é mesmo? É por isso que ela garantiu que, se reeleita, governará com ideias novas e pessoas novas. Estava, na verdade, mais uma vez, a afirmar que o senhor não fará parte da equipe. Então, ex ministro, tenha a bondade de não fazer um papelão. Continuando na sanha do terrorismo eleitoral, Mantega afirmou que a média das taxas de juros reais era de 15% no governo FHC, enquanto no governo petista, teria sido de 3,5%.
Em primeiro lugar, a taxa média de juros reais do governo petista entre 2003 e 2013 ministro Mantega, foi de 6,99%, o dobro do que o senhor disse. Em segundo lugar, é preciso saber que tipo de dificuldade viveu FHC e que tipo de dificuldade viveram os governos petistas. A tarefa de acabar com a hiperinflação ficou com o tucano. Os petistas, como sabemos, tentaram acabar com o Plano Real. Em terceiro lugar, um ministro da Fazenda deveria ter o bom senso de não se meter em terrorismo eleitoral.
Mantega, com a clareza habitual, ainda tentou fazer outra graça sobre o fato de os mercados terem reagido com euforia à notícia de que Aécio vai disputar o segundo turno: “Os mercados são muito espertos, mais do que você imagina. Eles buscam ganhar sempre, em todas as condições. Faz parte. Esse é, por definição, o objetivo. Se ele puder causar turbulência que favoreça a ele, ele vai.”
Que sutil esse Guido Mantega! Quando os mercados aplaudiam Lula, os petistas exibiam em suas páginas os elogios que lhe eram dirigidos por publicações especializadas. Que bom que o ministro reconhece que os mercados querem “ganhar sempre”. Estranho seria se quisessem perder. Ocorre, ex-ministro Mantega, que aquilo a que chamam, muitas vezes, de “especulação” é só um movimento defensivo dos agentes econômicos para se proteger de governos irresponsáveis ou incompetentes.
Faço uma pergunta ao ex-ministro Mantega, mas não ao cabo eleitoral: “Por que não se cala?”
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